Também nos negócios, alguns movimentos inicialmente prejudiciais podem, lá na frente, gerar boas consequências. Tome-se o caso da sobretaxação aplicada pelos EUA ao aço e alumínio do mundo. A escalada protecionista do senhor Trump, por um lado, está gerando condições excepcionais para que o Mercosul feche um acordo histórico e promissor com a União Europeia. O objetivo é claro: compradores europeus estão cada vez mais predispostos a driblar a dependência enorme que mantêm com o mercado americano. As vantagens são de mão dupla. Para países como o Brasil, que, nos últimos anos, gradativamente foi perdendo posições lá fora, essa abertura amplia o leque de clientes, diminui os riscos de queda abrupta nas vendas e incrementa a exposição de seus produtos em praças que normalmente eram menos exploradas.

A disposição brasileira em ganhar mais espaço no fluxo do comércio internacional nunca esteve tão perto de se concretizar. Nos últimos tempos, o superávit na balança tem dado sinais de avanço. A safra recorde de grãos na agricultura e o aumento de empresas nacionais que recorrem às exportações como alternativa para melhorar resultados turbinaram os lucros. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, em mais um Road Show internacional, disse que o Brasil está pronto para voltar a crescer a taxas de 3% ao ano e convidou investidores estrangeiros a olharem com melhores olhos para o potencial do País.

Por esses dias, o Fórum Econômico Mundial sobre a América Latina foi realizado em São Paulo e serviu de alavanca as pretensões lançadas pelo ministro. O próprio presidente Temer aproveitou o encontro para dizer que “o Brasil voltou para ficar no contexto internacional”. E almeja até uma posição de liderança. Temer propôs inclusive uma ação conjunta na Organização Mundial do Comércio levada a cabo pelas nações que foram prejudicadas com as novas tarifas do aço e do alumínio adotadas pelos EUA. O presidente brasileiro está disposto a falar com vários mandatários para montar uma articulação nesse sentido. E já avisou: entrará na OMC com ou sem outros interessados no assunto.

Foi a primeira vez que o presidente falou abertamente sobre o tema e demonstrou que a política externa de seu governo será mais arrojada daqui para frente. Empresários e governantes presentes ao Fórum gostaram do que ouviram. O economista e fundador do evento, Klaus Schwab, apontou que o mundo está atrás de lideranças que promovam o desenvolvimento de maneira global e não isoladamente, como parece desejar o presidente americano. Nesse sentido, entende Schwab, a China e mesmo o Brasil, com essa postura, podem estar na dianteira de um novo e alvissareiro processo.

(Nota publicada na Edição 1061 da Revista Dinheiro)