Durante toda a semana, nos dias que sucederam o primeiro turno da eleição, empresários e executivos do País reservaram parte de suas agendas para rascunhar planos e estratégias em cenários distintos para a economia a partir de 2019. De um lado, o prometido liberalismo de Jair Bolsonaro (PSL) – cenário que, em tese, resultaria na redução de impostos e em menor regulação do governo sobre as empresas. De outro, o fortalecimento do papel do Estado dentro da economia, como defende Fernando Haddad (PT) – uma fórmula praticada nos governos de Lula e Dilma, e que ainda desperta amor e ódio no meio corporativo.

“A equipe dele procura mais o mercado financeiro do que setor produtivo, principalmente o Paulo Guedes”, afirma o presidente da Anfavea, a associação das montadoras, Antonio Megale, ao se referir ao time do candidato Bolsonaro e seu provável ministro da Fazenda. Apesar de não declarar preferência em meio ao clima de hostilidade entre os eleitores, Megale sinaliza receio de que as políticas industriais que beneficiaram o setor automobilístico nos últimos anos, como o Inovar-Auto e o recém-apresentado Rota 2030, dêem lugar a uma política de “cada um por si” e de uma abertura comercial mal calculada. “Sobre nosso setor, o lado do PT já tem mais conhecimento pela história do partido ligada ao setor automotivo”, diz Megale.

A análise de Megale tem sido quase um fato isolado dentro de um ambiente de torcida incisiva do empresariado pela vitória de Bolsonaro. “A julgar pela reação positiva do mercado com o resultado das urnas, há um entendimento de que quem vai remediar de maneira mais precisa a crise fiscal é o Bolsonaro”, afirma o CEO do grupo educacional Estácio, Pedro Thompson. Essa esperança de dias melhores com uma economia mais voltada à direita não significa que os empresários sempre torceram por Bolsonaro, segundo o economista Paulo Oliveira, da Fundação Getulio Vargas (FGV). “Evidente que os candidatos mais equilibrados, como João Amoêdo, Geraldo Alckmin ou Henrique Meirelles, eram os presidentes dos sonhos dos empresários, mas diante das duas opções que restaram Bolsonaro parece ser uma alternativa melhor.”

Há empresários, no entanto, que encamparam a postura a cabos eleitorais e, publicamente, declaram apoio ao candidato do PSL. É o caso de Rubens Ometto, controlador da Cosan e um dos maiores empresários do setor sucroalcooleiro do País. “Não temos como votar na esquerda depois de tudo que fez com o Brasil, deixando a economia no brejo”, disse Ometto. “Votei no Geraldo Alckmin no primeiro turno porque acho que está na hora de dar uma chance ao outro lado.” Nenhum empresário tem sido mais incisivo na defesa política de Bolsonaro quanto o dono da rede varejista Havan, Luciano Hang. Ele tem postado vídeos na internet declarando seu apoio a Bolsonaro e sua aversão ao PT. Ele chegou a ser intimado pela Justiça do Trabalho de Santa Catarina, no início do mês, por supostamente pressionar seus 15 mil funcionários a votar em Bolsonaro, dizendo que poderá deixar o País e que a meta de dobrar o número de empregados, até 2022, está condicionada à vitória de seu candidato. Ele nega irregularidade e diz que continuará produzindo seus vídeos. “Se depois do dia 7 lamentavelmente ganhar a esquerda, e nós virarmos a Venezuela, vou jogar a toalha”, diz.

Colaboraram: Carlos EduardoValim, Felipe Mendes e Luana Meneghetti