Suécia, Reino Unido, Holanda, Estados Unidos e Cingapura são considerados os países pioneiros no desenvolvimento de tecnologias para Open Banking. No outro extremo, Brasil, Índia, Itália e África do Sul são apontados como conservadores e menos preparados para o avanço de um sistema financeiro.

Nesse novo ambiente, os dados dos clientes são compartilhados entre as instituições, o que leva a uma maior oferta de serviços e, consequentemente, um mercado mais competitivo. Os países nos quais há baixa utilização do dinheiro em papel moeda para realizar transações tendem a ser os líderes na construção do novo modelo.

A análise dos mercados com maior e menor potencial para o avanço do Open Banking é parte do estudo “The World Payments Report 2018”, realizado pela Capgemini e BNP Paribas. Como CEO de uma fintech de capital sueco no Brasil, venho acompanhando de perto o andamento da abertura dos dois mercados e acredito que o Brasil pode aprender muito com a experiência da Suécia e demais potências onde o ecossistema para o Open Banking está mais avançado.

No final do ano passado publiquei o artigo “Por que o Brasil pode se tornar uma Suécia no mercado de fintechs em 2019?”. Chegamos na metade do ano e o Open Banking surge como um novo movimento no qual o país tem potencial para participar seguindo os passos de mercados mais avançados no desenvolvimento de tecnologias para o setor financeiro.

Por que?

Em primeiro lugar, não podemos esquecer que o Brasil é merecidamente reconhecido por seu pioneirismo em tecnologia de automação bancária e meios de pagamento. A “Pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária 2019”, realizada em parceria com a Deloitte, indicou que 60% das transações no Brasil já são feitas pelos canais digitais e a movimentação pelo celular cresceu 80% em relação ao ano anterior. 

Das tecnologias que mais recebem investimentos de uma amostra de 15 bancos que operam no país, 80% indicaram Big Data e Analytics, 73% Inteligência Artificial, 67% Blockchain, 60% Robótica e 60% Open Banking e Marketplace, especificamente. No final do dia, são todas tecnologias importantes para viabilizar o avanço para um mercado aberto e interconectado.

Outro ponto é que o mercado de fintechs continua crescendo em velocidade impressionante no Brasil. Tal avanço foi possível com o surgimento de uma nova geração de startups e os recentes anúncios de diversos aportes de capital de risco em empresas em franca expansão, como abordei no meu último artigo

Com tecnologia bancária de ponta e um ecossistema empreendedor fortalecido, o país reúne um ambiente favorável para que a abertura e transformação do sistema financeiro ocorram como deseja o Banco Central. A instituição definiu o cronograma para início de implantação do Open Banking nos 12 maiores bancos no país em 2020.

Se o mercado estará pronto para regulação já no próximo ano ainda é uma incógnita. No entanto, mesmo que leve mais tempo para deslanchar, tudo indica que não haverá retrocesso. João Manoel Pinho de Mello, diretor de organização do sistema financeiro e de resolução do Banco Central, declarou em evento realizado há poucas semanas que a “implantação do Open Banking tem potencial para levar a uma grande redução dos spreads bancários e ele é crucial para competição”.

É o que desejam os consumidores. Eles querem mais poder para lidar com o próprio dinheiro e decidir com quais instituições consideram mais vantajoso trabalhar. E não é para menos. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de fevereiro deste ano, o Brasil tem 60 milhões de desbancarizados, ou seja, cerca de 30% da população.

O índice é decorrente principalmente da falta de concorrência no setor e da carência de serviços financeiros que atendam clientes com baixo poder aquisitivo, cenário que mudaria sensivelmente com a adoção do Open Banking.

 

O que o Brasil pode aprender?

Este mês de setembro será um marco importante para o Open Banking na Europa, já que entrarão em vigor os Regulatory Technical Standards (RTS) definidos pelo Payment Services Revised Directive (PSD2). A partir daí, todos os bancos europeus serão obrigados a abrir suas API interfaces para que terceiros tenham acesso às contas de seus clientes. A regulamentação através da Competition and Market Authority (CMA), no Reino Unido, e da PSD2 para países da União Europeia, já colocou algumas nações do Velho Continente na dianteira, como é o caso da Suécia.

No país nórdico, uma única startup de pagamentos, a Klarna, anunciou no início de agosto uma rodada de investimento de US$ 460 milhões, alcançando um valuation de US$ 5,5 bilhões e se tornando uma das fintechs mais valiosas do mundo. Outra fintech sueca, a Tink, levantou no início deste ano US$ 64 milhões. Depois de lançar sua plataforma Open Banking na Finlândia, o banco Nordea a abriu para que desenvolvedores pudessem formatar APIs também para clientes suecos. 

Por aqui no Brasil, vemos alguns movimentos iniciais, como o acordo entre o GuiaBolso e o Banco Original, que permitirá aos usuários do aplicativo de gestão financeira integrar seus dados bancários do Original. A TecBan, empresa de segurança, também apresentou sua plataforma Open Banking para garantir segurança nas transações aos clientes que ingressarem no novo ecossistema financeiro. Outras fintechs já estão desenvolvendo aplicações para ofertar novos serviços integrados com os bancos via Apps.

Para acelerar o ritmo, o Brasil precisará ainda solucionar algumas questões pendentes, como definir quais serão as APIs (interfaces) utilizadas para compartilhamento de dados. A segurança é, sem dúvida, uma questão sensível que tem sido uma das principais justificativas usadas pelos bancos, além de questões legais e tecnológicas, para retardar a consolidação do Open Banking em países mais protecionistas, como Itália, França e Bélgica. 

É compreensível que os bancos tenham receio do aumento da concorrência com a chegada de novos players. Mas, em países onde o Open Banking vem se tornando realidade, como na Suécia, as instituições têm buscado enxergar as fintechs não como uma ameaça, mas como uma oportunidade de atender e satisfazer quem realmente importa: o cliente. 

 Afinal, quanto maior o número de consumidores aderindo ao novo mercado financeiro, maior será a criação de oportunidades para que todos, fintechs e bancos, ao mesmo tempo concorram e cooperem para oferecer serviços inovadores. E as novas gerações, nunca é demais lembrar, não esperam nada mais senão inovação.

 

(*) Olle Widén é CEO e Co-fundador da FinanZero, fintech de capital
sueco que opera como correspondente bancário online para buscar
empréstimos junto a instituições financeiras (marketplace).