Em menos de um ano, duas boas notícias impressionaram os executivos da Unilever na Holanda. Ambas partiram do Brasil. A primeira era de que a subsidiária brasileira, impulsionada por um inédito cenário de expansão do consumo, superou a Inglaterra e se tornou a segunda maior do mundo, com faturamento de R$ 11 bilhões, atrás apenas dos Estados Unidos. 

 

A outra notícia, talvez a mais surpreendente, foi impressa dias atrás em seu relatório global. O documento concluiu que, além de comprar mais, o brasileiro está consumindo melhor. O que isso significa? Que o País começa a experimentar, em larga escala, produtos que antes eram considerados, para a maioria da população, supérfluos. 

 

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Caslos Lisboa, da AmBev: para o vice-presidente da companhia o 
“potencial é gigantesco.” O Brasil já é o terceiro no ranking mundial de cerveja

 

E não são poucos os exemplos. Só neste ano, a Unilever colocará nas prateleiras dos supermercados 60 lançamentos mais requintados – grande parte das novidades eram raridades nos carrinhos de compras, de sabão líquido e sabonetes antibacterianos a creme para homens e maionese de baixa caloria, sem sódio ou gordura trans. 

 

“Há uma visível sofisticação no consumo brasileiro. A população não quer apenas um produto acessível, quer um produto relevante”, disse à DINHEIRO o vice-presidente da companhia no Brasil, Luiz Carlos Dutra. E isso não é privilégio da gigante holandesa. Companhias como Pepsico, Nestlé, Renault e LG, entre tantas outras, surfam na onda do consumo e suas subsidiárias já figuram entre as maiores do mundo. 

 

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A última pesquisa de varejo da Nielsen revela como o perfil de consumo no País mudou radicalmente. Neste ano, o poder de compra atingirá R$ 2,2 trilhões, o equivalente ao PIB da Espanha. No grupo dos 15 produtos que mais cresceram em volume de vendas neste ano, 15 estão fora da lista de consumo básico – bem distante do tradicional arroz, feijão, bife e salada. 

 

Entre os destaques estão bebidas à base de soja, leites fermentados, isotônicos para a prática de esportes, produtos de higiene íntima, entre outros antes considerados artigos de luxo. “O Brasil caminha para o topo do mercado de consumo mundial, mais alinhado com as grandes economias”, disse o diretor da Nielsen, João Carlos Lazzarini. 

 

“Esse desempenho positivo e o maior grau de exigência do consumidor estão diretamente relacionados à expansão da economia e ao aumento do poder de compra”, garantiu. O status de “Brasil potência global” já é realidade para companhias como a PepsiCo, gigante do setor de alimentos. Em 1997, o País ocupava a oitava posição no ranking do grupo. 

 

Neste ano, assumiu a quarta posição e, em um ritmo impressionante de vendas, já é líder global em diversos egmentos, como peixes enlatados e achocolatados – seja em pó, seja em caixinha, como orótulo Toddynho. Segundo o diretor de negócios Alexandre Wolff, a linha de salgadinhos Ruffles e Doritos cresce a taxas superiores a 60% ao ano. “Todo tipo de produto relacionado à nutrição tem sido aceito pelo consumidor brasileiro de forma impressionante. A demanda por aveia e cookies, por exemplo, cresceu mais de 1.000% neste ano.”

 

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Essa fome por novidades e produtos de maior qualidade já transforma o Brasil em um protagonista global para inúmeros segmentos. A AmBev, uma das maiores cervejarias do mundo, sabe muito bem disso. O consumo de cerveja neste ano cresceu 5,2% no Brasil e colocou o País na terceira posição no ranking mundial dos maiores produtores da bebida, à frente da Rússia e atrás apenas da China e dos Estados Unidos. “O Brasil é disparadamente um dos mais atraentes mercados para a indústria cervejeira”, afirmou o vicepresidente da AmBev, Carlos Lisboa. Ele diz isso baseado em uma equação matemática. 

 

Enquanto cada brasileiro consome 60,9 litros por ano, em média, na República Tcheca, esse número chega a 156,5 litros. Na Alemanha, são 112,7 litros anuais por habitante. “Ou seja, o potencial de crescimento é gigantesco.” O País, evidentemente, não é sedutor apenas aos olhos da indústria de alimentos e bebidas. Neste ano, o mercado brasileiro ultrapassou a Alemanha em vendas de automóveis e se consolidou como o quarto maior mercado global.

 

Serão produzidos em 2010 cerca de 3,4 milhões de unidades. “Fantástico! Para a companhia, o País se tornou prioridade para os próximos anos”, afirmou o presidente da Renault nas Américas, Denis Barbier. Também neste ano, o Brasil subiu um degrau, da quinta para a quarta colocação no ranking mundial de produção de motocicletas – ao crescer 14% e atingir 1,8 milhão de unidades –, a mesma evolução em vendas de computadores, e de sexto para quinto em vendas de celulares. Para algumas marcas, no entanto, o Brasil está ainda mais no topo.

 

No primeiro semestre, a subsidiária brasileira se tornou o vice-líder na LG, atrás apenas dos EUA em volume, o primeiro no quesito rentabilidade e o campeão absoluto na linha áudio e vídeo – como aparelhos bluray e home theaters. “Somos a estrela da LG no mundo. Estamos crescendo muito em todos os segmentos, desde celulares e tevês de tela fina até produtos mais sofisticados, como geladeiras side-by-side e lavadoras integradas com secadoras. Neste ano, estamos vendendo mais de 10 mil unidades por mês. Em todo o ano passado, vendemos duas mil unidades”, disse o diretor da LG do Brasil, Eduardo Toni.