Ricardo Salinas Pliego, 51 anos, é o típico sujeito grã-fino. Conhecido por sua paixão por bons vinhos e pelo caráter explosivo, possui a terceira maior fortuna do México, estimada em US$ 4,6 bilhões pela Forbes. Seu grupo de empresas, que inclui uma rede de TV, negócios no varejo e um banco, fatura mais de US$ 5 bilhões. Dias atrás, Salinas desembarcou no Brasil disposto a conquistar os consumidores mais cobiçados da atualidade: os de baixa renda. Para isso, fincará no Recife a bandeira Elektra, a maior rede varejista da América Latina, com mais de mil lojas no continente. O segundo passo será abrir uma agência do Banco Azteca, o terceiro maior banco do México, dentro da Elektra recifense. O produto principal será o crédito para bens de consumo para trabalhadores informais que não podem comprovar renda. A dinâmica é simples e já é aplicada pelas redes brasileiras: pegar o dinheiro no banco e gastá-lo ali mesmo, na loja. A diferença está no público: o mexicano quer para si os rejeitados pelas Casas Bahia.

A bordo de um avião particular, a comitiva de Salinas chegou a Pernambuco no último fim de semana de setembro. Acompanhado da esposa, do filho caçula de apenas 4 anos e três babás, o magnata escolheu Olinda para ser a base de suas operações no Brasil. ?Ele ficou encantado com a cidade e quer criar um centro cultural junto com a sede?, conta o governador pernambucano, Eduardo Campos (PSB-PE). Mas o ?encanto? do empresário pelo Nordeste não se deve às belas praias e paisagens. É na região que estão 25% dos brasileiros. ?Há menos bancos e comércio ali. Além de uma maior população de renda média e baixa?, afirmou à DINHEIRO Luis Niño de Rivera, vice-presidente do Banco Azteca. Outro fator que despertou o interesse dos mexicanos foi o pujante cresciquadro). O principal, de até R$ 1,5 mil, é para bens de consumo duráveis. Há ainda o crédito pessoal no valor máximo de R$ 500, e o cartão de crédito. Até aí, nada de muito diferente das financeiras populares daqui. A novidade começa com abertura de conta corrente isenta de tarifas. ?Queremos priorizar o crédito e fixaremos taxas de juro extremamente atraentes?, afirma Luis Niño. O público-alvo difere um pouco do das grandes redes nacionais. O banco quer justamente aquele que não pode comprovar renda na hora de pedir crédito.Com 30% da população economicamente ativa do México trabalhando na informalidade, o Azteca é mestre em criar mecanismos para garantir o pagamento dos empréstimos. E no Brasil não será diferente. Um deles é a contratação de agentes que visitarão a casa do cliente para corroborar se sua condição de vida corresponde àquela declarada no pedido de crédito. Outra ferramenta de controle será o pagamento semanal das dívidas. ?Trabalhadores informais muitas vezes possuem renda semanal, e esse tipo de cobrança combate a inadimplência?, explica Niño.

Em entrevista coletiva à imprensa durante sua visita ao Recife, Salinas afirmou que o potencial do mercado brasileiro é maior que o de seu próprio país. ?Nosso banco trará grandes benefícios para os setores mais pobres da população brasileira?, disse o magnata. Mas o benefício maior, sobretudo o financeiro, irá mesmo para sua conta bilionária. Segundo especialistas do setor, o risco de Salinas errar o tiro no Brasil é pequeno. Para o consultor de varejo Eugênio Foganholo, apesar da concorrência das grandes, Salinas tem um trunfo nas mãos. ?Eles têm uma larga experiência com esse tipo de varejo em outros países. E, ao contrário das brasileiras, eles realmente dão crédito para classes bem baixas?, pontua.