Quando a Cencosud ingressou no Brasil, em 2007, a meta do fundador do grupo, o alemão naturalizado chileno Horst Paulmann, era tornar a empresa líder do varejo brasileiro. Para alcançar o objetivo, até 2011, a companhia desembolsou R$ 3 bilhões na compra de sete redes regionais de supermercados – entre elas a sergipana GBarbosa, a mineira Bretas e a carioca Prezunic –, e se tornou a quarta maior do setor, atrás do Carrefour, do Grupo Pão de Açúcar (GPA) e do Walmart. Com esse cartão de visitas, o futuro da chilena no País parecia, no mínimo, promissor. Nos últimos anos, porém, Paulmann viu seus planos irem por água a baixo. Desde 2013, as vendas da filial vêm caindo de forma consecutiva e a região tem, hoje, os piores resultados de todo o grupo, que opera em cinco países (leia mais no quadro ao final da reportagem). No ano passado, o faturamento caiu 5,5%, para R$ 8,5 bilhões. Neste ano, o cenário segue crítico, com uma queda nas vendas de 2,3%, de janeiro a março.

Para agravar a situação, executivos da linha de frente da operação brasileira deixaram a companhia nos últimos meses. Cristián Gutierrez, presidente da filial, renunciou ao cargo em abril. No início de julho, Ivo Benderoth, diretor das redes GBarbosa e Perini, e José Rafael Vásquez, diretor do Bretas, seguiram o mesmo caminho. Atualmente, o CFO, Sebastian Lós, atua como presidente interino. Procurada, a empresa disse que não se pronunciaria. “A Cencosud já enfrenta uma situação extremamente complexa”, afirma Eduardo Yamashita, sócio-diretor da consultoria de varejo GS & Inteligência. “Essa saída dos executivos é uma turbulência a mais.”

Os problemas têm gerado dúvidas, inclusive, sobre o futuro da rede no País. Rumores sobre uma eventual venda da operação, que já circulavam no mercado há alguns anos, ganharam força nas últimas semanas. DINHEIRO confirmou que executivos da matriz defendem a saída do Brasil, mas que Paulmann é contra. A visão do fundador é a de que uma negociação no cenário atual depreciaria o ativo e passaria uma percepção negativa aos investidores. Mas, em 2014, o empresário já dava sinais das dificuldades no País. Em um evento, ele disse que “não é fácil entender o Brasil”. “O Paulmann não vai sair pela porta dos fundos, vendendo a qualquer preço”, diz uma fonte próxima à empresa. “Além disso, acho difícil encontrar quem compre nessa situação.”

As principais redes da Cencosud no Brasil são a sergipana GBarbosa, e a mineira Bretas

A queda recente nos resultados da varejista é ainda mais preocupante se colocada lado a lado com o desempenho de seus principais concorrentes. No ano passado, os faturamentos do Carrefour e do GPA cresceram 7,2% e 8,2%, respectivamente. No período, o setor avançou 4,3% e a Cencosud e o Walmart foram as únicas redes, dentre as dez maiores, que tiveram retração. De 2014 até 2017, a receita bruta da companhia de Paulmann caiu de R$ 9,8 bilhões para R$ 8,5 bilhões. No período, a rede fechou também 22 lojas, chegando a 200 pontos de venda. Com a queda, a participação de mercado da Cencosud recuou, no intervalo, de 4% para 2%. As fatias do GPA e do Carrefour subiram um ponto percentual.

Para fontes ouvidas pela DINHEIRO, a estratégia adotada inicialmente no Brasil ajuda a explicar a atual situação da Cencosud. Eles investiram em aquisições de redes distantes geograficamente, com perfis diferentes e que tornaram a gestão extremamente complexa. A principal dificuldade foi integrar as marcas e tirar sinergias da operação. Além disso, a rede não conseguiu definir um modelo de negócio adequado. “Ela trabalhou como um pêndulo: uma hora centralizava a gestão e na outra, descentralizava”, diz uma fonte.

Somado a tudo isso, um erro recente foi não ter investido em formatos que ganharam importância nos últimos anos, como o atacarejo e as lojas de proximidade. Alberto Serrentino, fundador da Varese Retail, faz um paralelo com o Walmart, que também deu mais atenção aos supermercados e hipermercados, em detrimento desses formatos. “Outro sintoma parecido é a descontinuidade constante da liderança e a falta de autonomia da filial”, diz ele. Para recuperar os resultados, Paulmann terá que fazer uma revolução na operação brasileira. O primeiro desafio já está posto na mesa: encontrar um novo presidente.