Enquanto Michael Geoghegan, presidente mundial do HSBC, apresentava em Londres os resultados semestrais do banco na segunda-feira 2, o responsável pela operação brasileira, Conrado Engel, visitava funcionários e clientes em Santarém, no Pará. 

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Chefe local: Conrado Engel, presidente no Brasil: “Tivemos um primeiro semestre muito bom”

A bordo de um avião particular, Engel e três executivos ainda iriam para Macapá e Belém naquele dia, a tempo de ver nos sites de notícias a reação otimista das bolsas de valores ao lucro de US$ 11,1 bilhões do Grupo HSBC antes dos impostos. 

 

Como a cifra ficou quase 30% acima da prevista pela média dos analistas, os pregões de Londres, Paris e Frankfurt subiram mais de 2%, também animados com os resultados do francês BNP Paribas. Se os bancos globais vão bem, é sinal de que a economia mundial está melhorando. Parte cada vez mais importante desse resultado, como bem sabem Geoghegan e Engel, está no Brasil. 

 

O balanço do HSBC Brasil só será divulgado em 18 de agosto. A julgar pela contabilidade da matriz no Reino Unido, os números são auspiciosos e aumentam a visibilidade da filial no conjunto de 87 países do grupo. 

 

No primeiro semestre do ano, o lucro do HSBC no Brasil antes dos impostos foi de US$ 478 milhões, mais que o dobro dos US$ 214 milhões obtido no mesmo período de 2009, segundo a legislação societária internacional (IFRS). 

 

A importância do País na geração de lucros globais do grupo quase dobrou para 4,3% do lucro bruto. O Brasil representa mais de 50% dos resultados do banco na América Latina, região que contribuiu com 8% dos ganhos no primeiro semestre (veja gráfico). A Argentina ajudou com US$ 133 milhões e o México com US$ 224 milhões.

 

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Chefe global: Michael Geoghegan, CEO mundial, autorizou a remessa de R$ 1 bilhão para capitalizar o banco no Brasil

  

O maior peso do Brasil nos resultados da América Latina reflete o primeiro ano de trabalho de Conrado Engel, que ganhou a caneta de Shaun Wallis quando este foi guindado a diretor global de negócios, em Hong Kong. 

 

“Tivemos um primeiro semestre muito bom”, afirmou o executivo na semana passada ao comentar os resultados semestrais com a equipe. Segundo Engel, vários fatores sustentaram o bom desempenho: redução de 50% nas provisões contra devedores duvidosos, diminuição de perdas operacionais, aumento das recomendações de novos clientes pelos atuais correntistas do banco e o crescimento da base de clientes premier, com renda acima de R$ 7 mil.

 

Diferentemente do espanhol Santander, que não esconde de ninguém que quer lutar para estar entre os primeiros no País e trabalha para atrair o cliente de varejo, o HSBC está em busca da alta renda. 

 

“O banco quer ser acessível, global e oferecer uma sólida assessoria financeira”, diz Henrique Frayha, diretor-executivo do HSBC. Quem recebe menos de R$ 3,5 mil só abre uma conta-corrente no HSBC se trabalhar em empresa que escolha o banco para cuidar da administração da folha de pagamento. 

 

Mas Engel está de olho na alta renda. Este ano, ele lançou o segmento Advance, que privilegia o atendimento a clientes que ganham entre R$ 3,5 mil e R$ 7 mil mensais. Até o final de 2011, a intenção é somar 500 mil novos correntistas Advance. Hoje, o banco tem 5,6 milhões de clientes. 

 

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Padrão: Clientes do HSBC encontram as mesmas soluções e serviços em todas as agências do banco no mundo

 

A principal arma de Engel é a oferta de serviços com o mesmo padrão de qualidade em dezenas de países, já que os brasileiros viajam cada vez mais ao Exterior. Isso não quer dizer que o jogo está ganho. 

 

“O HSBC tem um potencial limitado para brigar com os grandes bancos no varejo. Mesmo nos segmentos de alta renda, sua atuação ainda é tímida”, diz Erivelto Rodrigues, presidente da Austin Rating. 

 

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Também faz parte da estratégia reforçar as operações de crédito com as empresas de pequeno e médio porte. No final do ano passado, Geoghegan autorizou uma remessa de R$ 1 bilhão ao Brasil para capitalizar o banco e ampliar sua capacidade de empréstimos. 

 

A oferta de crédito para empresários que faturam até R$ 20 milhões por ano aumentou para R$ 3,5 bilhões. A meta de Engel é duplicar, para 700 mil, o número de companhias no segmento corporativo. 

 

Se Bradesco e Itaú não têm motivos para se preocupar, o mesmo não se pode dizer do seu maior concorrente mundial: o Citigroup. “A competição do HSBC é com o Citibank, que também tem uma visão global e quer atender os clientes da mesma forma em vários países”, afirma Ceres Lisboa, analista da Moody’s.