Uma piada recorrente no mercado financeiro americano no segundo semestre de 2005 era de que o cargo menos desejado em Washington era a presidência do Federal Reserve (Fed), o banco central americano. O Fed passara quase 19 anos sob a batuta de Alan Greenspan, que solucionara as crises desse período injetando dinheiro na economia. O resultado, além do crescimento econômico, era quase uma dezena de trilhões de dólares em capital especulativo circulando nos mercados. Seu sucessor teria de resolver esse problema. Por isso, quando o presidente George W. Bush indicou Ben Bernanke, o professor de economia de Princeton não parecia o mais indicado para o cargo. No entanto, Bernanke era um especialista em crises e havia discutido longamente os erros do Federal Reserve ao lidar com o crash de 1929.

Quando a bolha do subprime explodiu em suas mãos, já no governo de Barack Obama, Bernanke adotou uma estratégia extremamente impopular: ele usou dinheiro dos pobres para salvar os ricos e impedir uma quebra em cascata dos bancos. O Fed reduziu os juros para perto de zero, onde permaneceram até meados do ano passado, e o Tesouro criou um programa de recompra que usou US$ 442 bilhões em dinheiro dos contribuintes americanos para recomprar “ativos tóxicos” de bancos, seguradoras e empresas.

Atuação precisa: ao reconduzir Bernanke no Fed, o presidente Barack Obama manteve um especialista em crises no comando do BC americano

Bernanke, reconduzido por Obama em 2010, foi muito criticado mas, além de abreviar a crise, o programa deu lucro. Ao encerrá-lo, em 2014, o Tesouro contabilizou um ganho de US$ 15,3 bilhões. O endurecimento das regras restringiu a concessão de crédito o que, ironicamente, impediu o próprio Bernanke de refinanciar sua casa em 2014, após deixar a presidência do Fed. “Talvez os bancos tenham ido longe demais em suas exigências”, disse ele, na ocasião.

Dez anos depois da quebra do Lehman Brothers, Bernanke continua ativo como professor e consultor. Em um artigo recente no The New York Times, ele afirmou que o sistema financeiro está mais resiliente, o que torna uma crise menos provável. “A maior precupação, porém, é que essas defesas percam eficácia com o tempo e partes do sistema financeiro menos regulamentadas voltem a assumir riscos excessivos”, escreveu ele. Um alerta a considerar, vindo do homem que debelou a crise.


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