O jogador francês Mathieu Flamini, de 33 anos, surgiu para o futebol de alto nível há cerca de uma década. Volante esforçado, polivalente, capaz de jogar em muitas funções e marcar com eficiência, ele se destacou jogando por Arsenal, da Inglaterra, e Milan, da Itália, e até chegou a ser convocado para a seleção francesa. Sua carreira é sólida, mas sem o brilho dos grandes craques. Financeiramente, por outro lado, nenhum jogador do mundo é mais rico do que ele. Nem mesmo o português Cristiano Ronaldo, considerado o esportista mais bem pago do mundo em 2017, com cerca de US$ 90 milhões recebidos em salários e patrocínios, e dono de uma fortuna estimada em R$ 747 milhões . Ou mesmo Neymar, que fechou a maior transação da história do futebol ao se transferir do Barcelona para o Paris Saint-Germain por R$ 821 milhões. Por seu novo contrato, assinado no começo da atual temporada, o atacante brasileiro receberá € 150 milhões (cerca de R$ 550 milhões) pelos próximos cinco anos.

Flamini conseguiu sua fortuna graças a uma tacada certeira, digna dos grandes investidores. Em 2008, enquanto jogava pelo Milan, conheceu o empreendedor Pasquale Granata, que propôs uma parceria para criar uma empresa de combustível sustentável, em Caserta, cidade próxima a Nápoles, no Sul da Itália. Assim, nasceu a GFBiochemicals, que produz ácido levulínico em escala comercial a partir de biomassa. O produto é capaz de substituir o petróleo causando menos impacto ambiental. A inovação faz a empresa ter um valor de mercado estimado em € 30 bilhões (cerca de R$ 120 bilhões), segundo analistas do setor petroquímico. O jogador não revela sua participação, mas não há informações sobre outros investidores, além dos sócios-fundadores.

Em 2016, após mudar a sua sede para Geleen, na Holanda, a GFBiochemicals comprou a americana Segetis, que desenvolve produtos derivados do ácido levulínico. A empresa era dona de 50 patentes relacionadas ao produto e de outras 200 ainda pendentes de aprovação. “A carreira de um jogador é cheia de altos e baixos”, disse Flamini, em entrevista à imprensa inglesa. “Isso me ajuda a clarear a mente e pensar em algo diferente.” Essa trajetória de um esportista que se torna um empresário de sucesso é rara. “Os jogadores não são incentivados, social e educacionalmente, a aproveitar os contatos que fazem durante a sua carreira para gerar novos negócios”, diz Pedro Daniel, responsável pela área de esportes da consultoria BDO. O ex-atacante Ronaldo é uma exceção. Fundou, em 2011, a agência de marketing esportivo 9ine e, depois do fim da empresa, comprou no ano passado a operação brasileira da americana Octagon.

Dois outros campeões do mundo de 2002 partiram para o empreendedorismo. O volante Gilberto Silva, é dono de um hotel na sua cidade natal, Lagoa da Prata (MG), e o goleiro Marcos fundou uma cervejaria. A história de Flamini ficou mundialmente conhecida quando ele se apresentou ao time espanhol Getafe, no início de fevereiro, às vésperas de um jogo contra o Barcelona. “Tenho outros interesses além do futebol, mas minha prioridade é o campo”, disse Flamini, durante a sua apresentação. De fato, o jogador demonstra amar o esporte. Afinal, Flamini não precisa mais se preocupar em fazer um pé de meia para o resto da vida . Com a sua fortuna, ele poderia comprar o Getafe. Ou ir além: a sua empresa vale mais do que Manchester United, Barcelona e Real Madrid, os mais valiosos times do mundo, somados.