A expressão banco de varejo está ganhando um sentido literal. A rede supermercadista Carrefour recebeu sinal verde do governo (Banco Central e Presidência da República) e se prepara para inaugurar, dentro de cinco meses, uma instituição financeira exclusiva para sua clientela. ?Decidimos ampliar a oferta de produtos financeiros debaixo do nosso teto?, adiantou à DINHEIRO o diretor-executivo da cadeia, Eric Reiss. O executivo não se refere apenas ao financiamento das compras feitas nas lojas. O Banco Carrefour oferecerá a seus clientes empréstimos pessoais, saque em caixa eletrônico, poupança, investimentos e títulos de capitalização. Ao contrário do rival Pão de Açúcar, que anunciou na terça-feira 27 uma associação com o Itaú para criar uma empresa de crédito, a cadeia francesa decidiu entrar no sistema financeiro com as próprias pernas ? como fez na França, na Espanha e na Argentina. A idéia é manter ?dentro de casa? o gerenciamento da preciosa carteira de 4,2 milhões de clientes portadores do cartão Carrefour, que hoje respondem por um terço das vendas da cadeia no País. ?Este é um ativo cobiçado pelo mercado, que merece ser protegido. O ágio (de R$ 380 milhões) que o Itaú pagou para entrar no Pão de Açúcar é uma boa prova?, explica Reiss.

Isso não significa aventurar-se sozinho em terreno desconhecido. A financeira francesa Cetelem, parceira de longa data do varejista conterrâneo, é sócia do Carrefour na empreitada, com 40% de participação no banco ? que tem inauguração prevista para janeiro, capital inicial de R$ 150 milhões e funcionará nos 86 hipermercados do grupo. A premissa dos franceses é oferecer produtos financeiros que permitam a consumidores de qualquer faixa de renda comprar qualquer produto disponível nas lojas. Trata-se de parcelar o pagamento e trabalhar com o menor juro possível, o que fica mais fácil no caso dos varejistas, que correm menos risco pois conhecem de perto seu cliente.

Uma espiada nos balanços das empresas do setor varejista em 2003 mostra que o lucro esteve ao lado de redes como Casas Bahia, C&A, Pão de Açúcar e Ponto Frio, que oferecem crediário, financiamento e pagamento facilitado. Com a sofisticação desses serviços financeiros, o caminho para os varejistas tem sido associar-se a uma instituição financeira, como fizeram Ponto Frio e Magazine Luiza com o Unibanco, ou criar o próprio banco, a exemplo da C&A. Por trás desta tendência está o que o consultor Álvaro Musa, diretor da Partner, chama de ?renascimento do crédito direto ao consumidor?. Há 10 anos, quando o Plano Real pôs fim a duas décadas de inflação crônica, o saldo de crédito ao consumo representava menos de 2% do PIB (cerca de R$ 25 bilhões). De lá para cá, este número quadruplicou, chegando a R$ 99,7 bilhões ou quase 7% do PIB. Não há estatísticas que mostrem que fatia deste bolo migrou para o varejo, mas Musa estima que ela seja ?significativa e crescente?. No que depender do Carrefour, isto é só o começo. ?O varejista tem uma vantagem na área financeira?, diz Reiss. ?Entramos na pele do cliente para saber do que ele precisa.?

UNIVERSO CARREFOUR

Hipermercados 86

Supermercados* 99

Cliente por loja 7 mil/dia

Cartões próprios 4,2 milhões