As imagens de Pequim sob uma espessa camada de poluição deram a volta ao mundo no ano passado, mas agora o céu azul voltou a dominar a capital chinesa, apesar de a luta contra a contaminação se anunciar longa.

“É como se a vida tivesse voltado”, explica satisfeito Zou Yi, um pequinês que há cinco anos fotografa todos os dias o horizonte, poluído ou não, que vê do seu apartamento, no 13º andar.

Em 2017, explica, algo mudou.

A qualidade do ar melhorou de forma espetacular e atingiu níveis nunca vistos desde o lançamento das medidas de controle da poluição em Pequim em 2013, segundo o Escritório de Proteção do Meio Ambiente.

Um dado resume o fenômeno: no quarto trimestre, a densidade média de partículas finas de 2,5 micrômetros de diâmetro (PM 2,5), muito perigosas porque penetram profundamente nos pulmões, caiu para 53,8% em relação ao ano anterior.

Para os especialistas, dois motivos explicam esta melhora: uma meteorologia favorável e uma aplicação mais estrita das leis ambientais.

– ‘Só o começo’ –

Mas as medidas do governo serão suficientes? Não é certo, já que as autoridades anunciam uma nova onda de poluição para este fim de semana.

Do seu apartamento panorâmico sobre os arranha-céus do setor de negócios, Zou se lembra da paisagem “lúgubre” que via quase diariamente, sobretudo no inverno, quando as calefações funcionam sem parar.

Este ex-investidor imobiliário reuniu cerca de 2.000 imagens que mostram os edifícios dos arredores, envolvidos em tonalidades cinzas ou azuis.

Zou iniciou este projeto em 2013, cansado de que a camada de poluição o impedisse de sair de casa. Desde então, deixou seu trabalho para se dedicar totalmente ao meio ambiente.

“Agora que o ar é melhor, descubro uma cidade cheia de cores, emoções e ritmo”, conta.

“Queremos mais ar puro! Isto é só o começo”, exclama sorridente em um parque Tian Yuan, aposentado de 65 anos.

Duas importantes medidas políticas permitiram este progresso.

As autoridades ordenaram fechar, nestes últimos anos, um grande número de fábricas poluentes situadas perto de Pequim. E no final de 2017, os habitantes das regiões nos arredores da capital tiveram que parar de utilizar a calefação de carvão e passar a gás ou eletricidade.

– Um azul duradouro? –

Os fortes ventos do norte neste inverno contribuíram para melhorar a qualidade do ar, aponta Huang Wei, do Greenpeace. Mas a associação ambientalista não se mostra triunfante.

O Greenpeace comemorou na quinta-feira em um relatório a queda notável do nível médio de partículas PM 2,5 em Pequim e em 27 cidades vizinhas: -33,1% em relação ao ano anterior durante o período de abril a dezembro de 2017.

Mas no conjunto do país, destaca a ONG, o retrocesso é de apenas 4,5% em 2017, a queda anual mais baixa desde 2013.

Para Xu Yuan, especialista em poluição atmosférica na Universidade chinesa de Hong Kong, a melhora recente representa “um ponto de inflexão”. Ele espera, no entanto, que “as pessoas não se contentem com isto”.

Em Pequim, o fotógrafo Zou Yi permanece, porém, atento e continua tirando fotos do céu diariamente. “Eu tenho só um sonho”, diz. “Que o céu de nosso país sempre pareça assim”.