FAZIA ALGUNS ANOS QUE Pedro Purm não vivia um período de intensa agitação e muitas viagens regionais. Nos últimos meses, o presidente da Zurich Brasil Seguros dividiu seu tempo entre a sede da companhia, em São Paulo, e a terra do pão de queijo, Minas Gerais. Seu alvo, na capital Belo Horizonte, era a seguradora Minas Brasil, empresa do Banco Mercantil que estava sendo disputada por seis grupos desde março. A tensão do executivo ficou em alta até julho deste ano, mês da escolha que seria anunciada pelo UBS Pactual, o banco de investimentos contratado para analisar as propostas. A vitória não diminuiu a pressão que Purm colocou sobre si. Ele tratou todos os passos com cautela e só foi respirar aliviado quando assinou o cheque de R$ 336,3 milhões e assumiu definitivamente o controle da companhia mineira na primeira semana de dezembro.

O negócio abriu as portas para a Zurich do principal mercado do setor no Brasil, o de apólices de automóveis. Dos R$ 156 milhões em prêmios líquidos pela Minas Brasil no primeiro semestre de 2008, cerca de 70% foram referentes aos disputados planos de proteção de carros. É um filão que movimentou R$ 17 bilhões em prêmios acumulados até outubro, segundo a Superintendência de Seguros Privados (Susep). Ponto para os suíços que, até então, atuavam apenas no atacado, atendendo cerca de 700 empresas. “O automóvel é estratégico e não daria para entrar no mercado de varejo sem uma aquisição”, afirma Purm. Antes de focar em outros Estados, ele quer subir no ranking do setor em Minas Gerais e conquistar a primeira colocação. Para isso, precisará ultrapasssar Bradesco, Allianz, Banco do Brasil e Sul América. “Queremos ser a seguradora líder em resultado em Minas. É nosso dever”, diz Purm.

O aval para a aquisição veio do presidente da Zurich na América Latina, Jaime Paredes. Baseado em Miami, Paredes foi um defensor do direcionamento da companhia para os países emergentes nesse momento de crise global. E colocou o Brasil como a prioridade entre os BRICs, grupo de emergentes que inclui Rússia, Índia e China. Nada mais natural para quem vê os negócios de perto. “O Brasil é o maior mercado da América Latina. Nossa presença aqui era muito tímida”, justifica Purm. A virada nesse jogo levou sete anos a mais do que o brasileiro gostaria. Em 2001, a Zurich quase foi sócia de outro Banco Mercantil, o de São Paulo, do banqueiro Gastão Vidigal. Mas o falecimento de Vidigal, em agosto daquele ano, frustrou as negociações e o Mercantil dos paulistas foi comprado pelo Bradesco, em janeiro de 2002, por R$ 1,37 bilhão. Agora, graças aos mineiros, os suíços irão atacar os planos de varejo nas áreas de bens, vida e previdência.

Durante 20 anos, os suíços terão exclusividade para vender apólices nas 163 agências do Banco Mercantil. A idéia inicial é manter a marca Minas Brasil, que amplia as chances de crescimento da Zurich, menos conhecida no País. As chances de crescimento são grandes. “A Zurich terá produtos que não existiam em seu portfólio, em especial o seguro de veículos, que atinge em cheio a pessoa física”, analisa Rubens Nogueira, presidente da Classic Corretora de Seguros.