Há intensa movimentação nos corredores da Medial, um dos maiores grupos de saúde suplementar no País, e não se trata de médicos correndo para salvar a vida de um paciente. A companhia passa por uma profunda mudança na estrutura corporativa. Motivo: quer segmentar seus serviços para atrair novos clientes e transformar a cadeia de hospitais em empresa própria para atender a outras operadoras de saúde. Sede de crescer? Claro, pois desde que abriu capital, em setembro do ano passado, e captou R$ 750 milhões, a Medial tem como bancar uma expansão. Mas a nova política tem a ver também com sobrevivência no mercado. ?O setor vai sofrer uma forte consolidação nos hospitais nos próximos cinco anos. Haverá os consolidadores ou os consolidados. Os demais vão fechar?, prevê Wilson Cappellete, diretor executivo de recursos próprios da Medial, que assumirá o comando da nova subsidiária. ?Já somos uma das maiores cadeias de hospitais do Brasil. Nossa intenção é duplicar o número de leitos em três anos e, a médio prazo, nos tornarmos os maiores do setor.?

A expansão do grupo é consistente. Começou com a aquisição da empresa de odontologia E-Nova, da cadeia de laboratórios Endomed, e de grandes terrenos em áreas nobres da capital paulista. Em maio, foi a vez de absorver a

concorrente Amesp por R$ 253 milhões, empresa que tinha uma carteira de 489 mil beneficiários em planos médicos, 95 mil em planos odontológicos, cinco hospitais e 26 centros médicos. Resultado: com a incorporação, a Medial aumentou 50% e dobrou a rede própria. E não parou por aí. Recentemente, a empresa anunciou investimentos de R$170 milhões na construção de mais dois hospitais e de um centro de diagnósticos em São Paulo, e já reservou R$ 280 milhões para novas aquisições. ?Podemos mudar o modelo da saúde no País para algo muito mais eficiente, com qualidade de serviços e a custos mais baixos?, afirma Luiz Kaufmann, presidente do grupo. Os números impressionam, mas de nada adiantaria comprar rivais se a companhia não revisse a cartela de produtos. A Medial está segmentando toda a sua linha e criará modelos distintos de planos para cada público que atende. O foco principal é a grande parcela de brasileiros que recebem de três e dez salários mínimos (em São Paulo, representa 43,1% da população), parcela essa ainda pouco atendida pelas demais operadoras. ?Há uma correlação forte entre o produto per capita e os gastos com saúde. À medida que aumenta a disponibilidade de renda, o gasto em saúde aumenta exponencialmente?, avalia Kaufmann. ?A nossa visão é que à medida que a renda disponível melhorar, a tendência é que os gastos em saúde cresçam mais rapidamente.?

Outro segmento de atuação que o grupo vai privilegiar é a medicina preventiva. A Medial adotou um modelo de assistência integral, para evitar ou retardar o adoecimento dos beneficiários. Pode parecer estranho para uma empresa que vende serviços na área de saúde, mas a lógica é simples: pesquisa interna revelou que pacientes tratados em programas de medicina preventiva, como os diabéticos, economizam até 40% em medicamentos e tratamento, por evitar complicações da doença. Isso é importante, já que 5% dos beneficiários que apresentam doenças crônicas são responsáveis por 60% dos gastos da empresa. Os investimentos na área chegam a R$ 185 milhões. ?Não queremos mais fazer só medicina assistencial. Quando estes beneficiários se tratam, respeitando dietas e fazendo exercícios físicos, sua saúde melhora, e eles mesmos têm menos custos e problemas para resolver?, diz Célia Souza, diretora do núcleo de pesquisa e desenvolvimento médico da Medial.

É uma boa aposta, já que o setor de medicina diagnóstica privada no Brasil, que movimenta R$ 6 bilhões, ainda é muito fragmentado. Para se ter uma noção, o maior player detém atualmente apenas 10% do mercado. ?Estamos de olho nesse filão?, avisa Kaufmann.