O horizonte no Brasil da gigante americana de doces e de petfood Mars, dona de marcas como M&M’s, Stix, Twix, Pedigree, Royal Canin e Whiskas, está bem distante da pandemia da Covid-19 ou de crises recorrentes na economia do País. Pelo contrário. O cenário é mais amplo, com visão de longo prazo. Para a empresa, ajuda o fato de ser uma organização familiar de capital fechado, criada em Washington por Franklin Clarence Mars em 1911. Isso explica em parte o ciclo de investimentos no País, entre 2012 e 2020, de R$ 1 bilhão em construção e ampliação de unidades fabris, justamente em um período marcado por fases de recessão e turbulências políticas. “Só uma companhia que não tem a pressão de falar com investidores a cada trimestre pode fazer um planejamento mais longo. A gente pensa em gerações e não em curtos períodos”, afirmou José Carlos Rapacci, presidente da Mars no Brasil.

Metade desses investimentos foi na construção do parque fabril em Guararema (SP) e outra parte na expansão de outras três fábricas no Brasil — estão localizadas em Recife, Descalvado (SP) e Mogi Mirim (SP). No ano passado, a Mars faturou globalmente US$ 40 bilhões, mas a empresa não revela a receita da operação brasileira. Embora o segmento de chocolate tenha sido afetado, no início da pandemia, pela venda de impulso, a receita do setor já alcançou patamares pré-crise. Na alimentação animal, o executivo disse que o crescimento alcançou dois dígitos.

Outro plano importante da Mars e que exemplifica o holofote de empresa americana para o Brasil é a construção do primeiro laboratório regional da companhia na América Latina, o sétimo do tipo no mundo, e que entrou em operação em agosto, no espaço da planta de Mogi Mirim. Somente com o laboratório foram aportados R$ 50 milhões, parte do pacote de investimentos dos últimos oito anos no País. No novo espaço serão realizados, por 40 profissionais, entre técnicos e pesquisadores, testes sobre qualidade e segurança dos alimentos produzidos.

INOVAÇÃO Laboratório em Mogi Mirim (SP) é o primeiro da companhia na América Latina e sétimo no mundo. (Crédito:Divulgação)

O laboratório regional, que irá atender 13 unidades da Mars na América Latina, além do Brasil, também terá uma área de inovação. “O local vai ser usado para controle de matéria-prima, para etapa de produção, de produtos acabados e também como base para lançamentos, porque esses dados cruzam com outros elementos e geram insites”, afirmou o executivo.

Rapacci contou que, ainda que a crise provocada pela pandemia da Covid-19 não tenha atrapalhado o plano de investimentos no País, a Mars sentiu o impacto da alta dos insumos no período. Sem revelar o porcentual, o executivo da companhia disse que o setor de petfood foi muito atingido com a alta nos preços de cereais, como milho e sorgo, e proteínas animais, que são matérias-primas para produção de alimentos para cães e gatos. “A gente teve impacto da desvalorização da moeda, ao mesmo tempo em que houve crescimento do custo. A variação do preço do milho praticamente dobrou no período”, disse o presidente da Mars.

O impacto observado pela Mars foi, de fato, sentido por todo o setor pet brasileiro. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), o aumento médio acumulado de insumos superou 100% entre 2020 e 2021. As companhias de pet food tiveram impacto negativo superior a 50% na matéria-prima. Os custos com proteínas de origem animal ultrapassaram 160%.

Apesar do desafio dos custos, o segmento tem muito mais a comemorar do que a lamentar. Ainda de acordo com a entidade, somente o segmento de pet food, que representa 53% do faturamento de todo o setor de produtos e serviços para animais de estimação, a receita em 2021 no Brasil deve chegar a R$ 24,8 bilhões, o que indica alta de 21% sobre o resultado de 2020. No geral, o crescimento de todo o setor deve chegar a 13,8%.

Marco Flavio

“Temos marcas muito fortes que vão seguir em alta. Além de ações de inovação, temos a chance de expandir o portfólio da Mars no Brasil” José Carlos Rapacci Presidente da Mars no Brasil.

Para o presidente da Abinpet, José Edson Galvão de França, a declaração de essencialidade da indústria pet, logo no início da pandemia, contribuiu para o bom resultado do ano. “Foi uma surpresa positiva o resultado de 2020. Ainda que com todos os fatores como a alta de custo e a carga tributária elevada, temos de levantar a mão para o céu por termos conseguindo vernder mais”, disse. “A população, de todas as classes, cuidou bem de seus animais.” O Brasil tem hoje 74 milhões de cães e gatos.

O presidente da Mars enxerga ainda mais espaço para crescer. “Temos marcas muito fortes que vão seguir em alta. Além de ações de inovação, temos a chance de expandir o portfólio no Brasil, com produtos de destaque em outros países. Basta olhar o grande portfólio da Mars”, disse Rapacci. O horizonte está traçado. Com ou sem crise no Brasil, a Mars tem apetite.