O empresário Javier Hidalgo, 45 anos, há mais de uma década é figura recorrente na mídia espanhola. Por suas aventuras amorosas, aparições em festas de gala ou baladas extravagantes em iates no Mediterrâneo, seu rosto estampa com frequência as primeiras páginas dos tablóides e as notas de destaque das colunas sociais. O estilo bon vivant lhe rendeu o título de “Casanova espanhol”, em referência ao lendário sedutor veneziano Giacomo Casanova (1725-1798). Desde outubro de 2016, no entanto, Hidalgo tem sido visto mais nos noticiários de economia e negócios do que nas seções de fofocas. Com razão. Ele é herdeiro de Juan José “Pepe” Hidalgo, dono de uma fortuna pessoal estimada em R$ 3 bilhões.

Com a bênção do pai, Javier recebeu a missão de multiplicar os resultados do Grupo Globalia, um dos maiores conglomerados de turismo da Europa, dono de um faturamento de € 4 bilhões. Sob seu guarda-chuva estão companhias como a aérea Air Europa e a hoteleira Grand Palladium. As duas irmãs, a primogênita Maria José e a caçula Cristina, também ganharam cargos de diretoria no grupo. “A ordem é investir em todas as oportunidades que forem atraentes”, disse Javier Hidalgo, em entrevista à DINHEIRO, em São Paulo. “Vamos comprar hotéis, disputar a concorrência na administração de aeroportos e fortalecer a operação da nossa companhia aérea, a Air Europa.”

Império ibérico: no detalhe, o patriarca Juan José “Pepe” Hidalgo, que passou a gestão do grupo para seu filho. À direita, Javier Hidalgo com o CEO da parceira Ryanair, Michael O’Leary (Crédito:Divulgação | Efe/ Emilio Naranjo)

A agressiva estratégia do bilionário espanhol explica sua turnê pelo Brasil, na semana passada. Como parte de um investimento de US$ 3,5 bilhões, em dois anos, para a aquisição de 26 novas aeronaves, modernização dos atuais 50 aviões da frota e a abertura de novas rotas, a Air Europa quer abocanhar parte do crescente mercado aéreo entre o Brasil e a Europa. A rota já é fortemente disputada pela Latam, pela portuguesa TAP, pela alemã Lufthansa e pela franco-holandesa Air France-KLM. “Sabemos como competir porque já disputamos espaço com gigantes no mercado aéreo mais ‘sangrento’ do mundo, o europeu”, afirmou Hidalgo, que destacou a recente parceria de codeshare firmada com a irlandesa Ryanair, a maior companhia de baixo custo do mundo, como um diferencial competitivo em relação às rivais que operam no Brasil. “Só o Nordeste brasileiro, com mais de 50 milhões de pessoas, possui população maior do que a da Espanha”, diz.

No ano passado, a Air Europa transportou 260 mil passageiros no Brasil, um aumento de 4% sobre 2016, com uma ocupação média de 90%. Esse percentual, nos 50 destinos da empresa no mundo, é de 78%. Em 2017, o País também se tornou o maior mercado global da Air Europa, fora da Espanha, embora apenas 6 milhões de turistas estrangeiros tenham desembarcado por aqui. Como comparação, o Chile recebeu 6,5 milhões de visitantes, e a Espanha 83 milhões. “Pode apostar, o Brasil se tornará um novo Caribe no mapa mundial do turismo e nós estaremos muito bem posicionados quando isso acontecer”, afirma Hidalgo. Essa confiança endossa parte do plano brasileiro do empresário espanhol.

A Air Europa estuda inaugurar, ao longo desse ano, as rotas diretas para Madri a partir de várias capitais brasileiras: Porto Alegre e Rio de Janeiro, por exemplo. Além de abrir novos trajetos, vai ampliar a frequência de voos partindo de São Paulo, Recife e Salvador, principal hub no Brasil e cidade onde opera desde 2003. Detalhe: a rota Cumbica-Barajas, a partir do domingo 25, será realizada com a aeronave Boeing 787-800 Dreamliner. O avião reduzirá em 40 minutos o tempo de viagem, e diminuirá em 20% as despesas com combustível. “A aposta da Air Europa no Brasil acontece em um bom momento, já que as perspectivas de aumento do fluxo de turistas entre os dois continentes e a possibilidade de um acordo de livre comércio deverão multiplicar exponencialmente a demanda por voos”, diz Mauro Reis, especialista em aviação, da Universidade Estácio de Sá.

Fora das disputas nos ares, Hidalgo afirma que espera vencer algumas das 13 privatizações de aeroportos previstas para este ano. O governo deverá passar para a iniciativa privada terminais de capitais importantes, como Vitória, Recife, Aracaju e Maceió. “Com recursos próprios, faremos os investimentos necessários para nos consolidar como um dos maiores operadores turísticos no Brasil e da América Latina”, afirma o CEO. Já no mercado hoteleiro, algumas negociações estão em andamento, segundo ele. A rede de resorts Palladium, que opera uma unidade na Praia de Imbassaí, na Bahia, faz parte do Grupo Globalia e poderá ser um pilar do plano de expansão da área de hotéis. “Não posso revelar detalhes, mas posso garantir que estamos de olho em hotéis urbanos, com foco corporativo, e em locais de grande potencial turístico no Nordeste”, diz Hidalgo.