Em agosto de 2018, a Omega Geração, empresa criada dez anos antes por Antonio Augusto de Bastos Filho e o fundo de investimentos Tarpon, pagou R$ 1,1 bilhão por 50% de participação no maior parque solar do Brasil, o complexo Pirapora, em Minas Gerais. A francesa EDF Energies Nouvelles detém a outra metade do capital. Composto por 11 usinas já em operação comercial, essa fazenda solar possui 321 MW de capacidade instalada. Já o grupo italiano Enel, por meio da Enel Green Power, anunciou em outubro a construção, por R$ 1,4 bilhão, da maior usina solar da América do Sul. Com potencial de 475 MW, ficará em São Gonçalo do Gurgueia, no Piauí, e deve estar em plena operação em 2020.

Investimentos dessa magnitude em energia solar pareciam algo impossível há dois anos. Em 2017, a energia solar representava uma fatia pífia na matriz brasileira. Atualmente, já está em 1,2%, e, em 2026, pode alcançar 5% do total. Em 2017, o potencial instalado passou a barreira de 1 GW. Esse volume dobrou no ano seguinte, e para 2019 se espera 3,3 GW. É a fonte de energia de maior crescimento atualmente, e pode trazer inúmeros benefícios econômicos e sociais. “A energia renovável vai ser um importante sustentáculo do novo ciclo econômico do Brasil”, diz Bastos. “Tanto as melhores regiões para instalação de parques solares quanto dos eólicos estão em regiões de IDH muito baixo e podem empregar muita gente.” Alguns Estados do Nordeste, onde não falta sol o ano inteiro, estão recebendo a maior parte dos projetos – em especial Bahia, Piauí, Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Outros polos estão em Minas Gerais, São Paulo e Tocantins, e começam a ser desenvolvidos no Centro-Oeste.

Como o Brasil já acumulou R$ 5,2 bilhões de investimentos em projetos de geração com painéis de células fotovoltaicas e há mais R$ 21,3 bilhões previstos até 2022, o segmento começa a ganhar musculatura. Isso causa um aumento de escala e a consequente diminuição do preço da energia solar, tornando-a mais competitiva. De 2013 a 2018, o preço médio caiu de US$ 103 por MWh para US$ 33,25 MWh, segundo a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica. Com esse valor, equivalente R$ 118, de acordo com o câmbio da época do leilão de energia de 2018, o preço médio já chega a ser inferior ao das fontes de biomassa e das pequenas centrais hidrelétricas.

Uma das vantagens da tecnologia é permitir o crescimento modular e até mesmo com pequenos projetos. Para iniciar a produção, é possível usar apenas um painel no teto de casas e gastar R$ 5 mil quanto a construção de um parque bilionário. “É uma tecnologia muito versátil e modular”, diz Rodrigo Sauaia, presidente da Absolar, a associação que representa as empresas do setor de energia solar. “O Brasil é um país solar por natureza.”

Os números de estudo realizados pela Empresa de Pesquisa Energética impressionam. Hoje toda a matriz energética brasileira tem capacidade de 163 GW. Considerando apenas áreas que não estão em locais ambientalmente sensíveis, o País poderia gerar mais de 20 mil GW de energia solar. Ou seja, 120 vezes mais que a matriz inteira atual. Apenas aproveitando os telhados de residências, já seria possível gerar 164 MW, um pouco mais do que a matriz de hoje. “É um recurso abundante e inesgotável, e que pode utilizar terras improdutivas para a agricultura”, diz Sauaia.

Com base em dados da EPE e da Bloomberg New Energy Finance, ele espera que o sol represente 10% da geração brasileira, em 2030, e até 32%, até 2040. Dessa forma, ele deve superar em duas décadas a geração hidrelétrica para se tornar a fonte número um. Com isso, pode se tornar um dos cinco maiores geradores de energia solar (confira tabela ao lado). Atualmente é apenas o 25º. E os painéis deverão estar por todos os lugares. A portuguesa EDP já fechou contrato para energia solar para 88 agências do Banco do Brasil, com 6 MW de potencial, e deve anunciar nas próximas semanas um acordo com um shopping center, com capacidade de gerar 8 MW.


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