O PT está sob pressão. Já são quase 500 entidades empresariais, sindicatos e lobistas de toda a espécie pressionando a equipe de transição do governo com suas reivindicações. Querem falar, ser ouvidos e esperam ser atendidos. Há centenas de documentos com propostas para cada setor da economia. E vários nomes ligados ao partido, cada um em sua área, também têm sido assediados. Especialmente os cotados para os ministérios. O resultado é que alguns petistas há um mês desconhecidos fora do partido começaram a virar, repentinamente, celebridades emergentes. Os deputados Walter Pinheiro e Jorge Bittar, por exemplo, foram os convidados de honra de um jantar que as companhias telefônicas ofereceram dias atrás em São Paulo. As telefônicas choraram pela redução dos impostos e também querem que a Anatel flexibilize as metas de qualidade. ?Precisamos que a base de consumidores de telecomunicações cresça?, defende o presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica, Carlos de Paiva Lopes. A indústria do fumo cercou o deputado Paulo Paim, eleito pelo Rio Grande do Sul, estado que concentra a produção de tabaco. Pede a volta da propaganda de cigarros. A agricultura encontra guarida junto a João Grandão, do Mato Grosso do Sul. Já negocia a liberação dos produtos transgênicos. Os bancos estão em cima do deputado Ricardo Berzoini e do assessor Guido Mantega. Uma das prioridades é a redução dos impostos que encarecem os empréstimos bancários. ?É um equívoco supor que os bancos gostam de operar com juros altos?, diz Gabriel Jorge Ferreira, presidente da Federação Brasileira dos Bancos. Berzoini também está sendo assediado pelas companhias aéreas. Pedem a criação de uma política estratégica para o setor. Também gostariam de dinheiro do BNDES. O resto pedirão depois. Os produtores de açúcar e álcool conversam direto com Antônio Palocci, coordenador da transição, sobre a retomada do Proálcool. ?Precisamos da participação do governo?, afirma Eduardo Pereira de Carvalho, presidente da União da Agroindústria Canavieira.

Nessa temporada de assédio, um dos setores mais bem-sucedidos, por enquanto, é o de seguros. A Federação Nacional das Seguradoras começou a se movimentar ainda no ano passado, encomendando estudos técnicos e recomendando a seus associados ajuda na campanha de vários candidatos, como a governadora do Rio, Benedita da Silva. Dias antes da eleição no primeiro turno, o candidato Lula encontrou-se no Hotel Glória, Rio, com o presidente da entidade, João Elísio Ferraz de Campos. Acertaram que, se Lula ganhasse, seria criado um grupo de trabalho para implementar reformas nos setores de seguros de previdência privada. Lula cumpriu a promessa e já indicou seu representante, Luís Gushiken. Raros são os que têm o privilégio de falar com Lula, José Dirceu, Palocci ou Gushiken. Os lobistas agora tentam detectar canais alternativos para suas reivindicações.