Já se vão 45 desde que ela recebeu seu diploma de enóloga – e desde então, tudo mudou na história do vinho argentino. Descendente de imigrantes italianos, Susana Balbo queria ser física nuclear, mas teve de adequar o sonho à realidade de sua Mendoza natal. Se, com isso, a Argentina perdeu uma grande cientista, não é possível saber. Que o mundo ganhou vinhos esplêndidos e uma visão inspiradora sobre o empoderamento feminino, não restam dúvidas.

Sua trajetória foi marcada por desafios e pela superação de todos eles. Ela até rompeu com o irmão, que queria fazer vinhos básicos. Hoje, Susana é um ícone da vitivinicultura e uma liderança empresarial e política de nível global. Presidiu a Wines of Argentina, ocupou uma cadeira na Assembleia Nacional e faz parte do W20. A sigla se refere à iniciativa criada por mulheres como braço do G20, grupo de nações mais ricas. Entre outros temas, a entidade trata de reduzir as desigualdades de gênero.

A militância política e nos negócios é indissociável da personalidade de Susana, tanto quanto seu amor pelo vinho e seu encanto pela grafologia. Na terça-feira (2), durante uma masterclass para jornalistas brasileiros, ela relembrou sua primeira contratação, em uma vinícola em Salta. A admissão levou em conta não só seu desempenho em uma prova como também um exame grafológico. “Desde então, a assinatura se tornou algo importante para minha carreira, minha visão de negócios e também das pessoas”, afirmou. Tanto assim que uma de suas linhas mais conhecidas se chama justamente Signature, hoje com sete rótulos à venda no Brasil, trazidos pela Cantu Importadora a preços entre R$ 210 e R$ 300.

REVOLUÇÃO – Introduzir pouco a pouco mudanças na enologia fez de Susana a protagonista da principal revolução do setor na Argentina. Isso se deu tanto pela evolução da qualidade dos vinhos quanto pela orientação para o mercado externo. Ela primeiro exportou para a Inglaterra, depois, para o Brasil – países que desde 2002 são os principais destinos dos vinhos de Susana. Buscar consumidores fora da Argentina foi fundamental para elevar o market share global de 0,4% para os atuais 3,7%.

Na última década, já com os filhos trabalhando na empresa, e com a chegada do enólogo Edgardo del Popolo, os vinhos de Susana passaram a um patamar ainda mais notável. A empresa familiar foi redesenhada, com novos sócios, incluindo um fundo de investimento. Isso permite aportar mais recursos em todas as etapas. O grupo investiu na formação de novos vinhedos em terroirs antes inexplorados (caso de Gualtallary, no Vale de Uco) e no aprimoramento dos processos de vinificação (caso do  Torrontes fermentado em barricas novas).

PONTUAÇÕES – A excelência dos rótulos assinados por Susana e Edgardo se traduz nas altas pontuações. O Nosotros 2014, produzido em Altamira (altitude média de 1.150 metros) e envelhecido em carvalho por 16 meses, obteve 98 pontos de James Suckling e 96 do Guía Descorchados. Para Susana, trata-se de “um tributo ao trabalho em equipe”, como diz o nome. Na taça, é um malbec de taninos leves, notas de violeta e frutas negras, com um toque de mentol que convida ao próximo gole com avidez. “Ele traduz o que de melhor podemos fazer”, diz Edgardo. O preço reflete essa condição: R$ 1.060.

Mais acessível, o BenMarco Expressivo 2018, resultante de um corte de 85% malbec e 15% cabernet franc, permaneceu 14 meses em barrica. Com 14.5% de álcool, excelente equilíbrio entre acidez e doçura, além de um toque mineral, ele é facílimo de beber. Vale cada centavo dos R$ 270 que custa. Pode não ser o melhor que Susana faz. Ainda assim, revela que essa genial enóloga e empresária não cansa de perseguir o apogeu.

BenMarco Expresivo: corte de malbec e cabernet franc (Crédito:Divulgação)
Nosotros: 98 pontos na avaliação de James Suckling (Crédito:Divulgação)