O ciclo de política monetária restritiva está longe do fim. O Banco Central deixou isso claro na última reunião do Copom, dias atrás. Nada aponta para o arrefecimento da crise inflacionária e o remédio dos juros altos segue precisando ser aplicado em doses altas. A perda de controle das expectativas é grande. O cenário vai mudando desfavoravelmente dia após dia. Mesmo o câmbio mostra sinais de instabilidade. No “quadro alternativo” do Banco Central, a projeção de carestia para 2023 ficaria em 3,1% (abaixo, portanto, da meta de 3,25%). Mas a possibilidade nesse sentido é bem remota. A estatística leva em conta a curva futura do mercado para o preço do petróleo, terminando 2022 custando US$ 100 o barril. Já no último encontro do Copom o petróleo brent havia fechado em US$ 98,02. No início da semana encerrou a US$ 107,58. As cotações estão bem acima do calculado. E com a sua política de taxas em constante remarcação, o Brasil voltou a ocupar a nada honrosa posição no ranking de líder mundial em juros, ao cravar os 12,75% para a Selic, descontada a projeção de inflação. A lista, que contém 40 países entre os mais vorazes nessa política monetária é elaborado pela gestora Infinity Asset Management em parceria com o portal MoneYou. Por ela, o Brasil vai alternando a liderança com a Rússia, seu parceiro “solidário” hoje envolvido em guerra com a Ucrânia, que acaba de cortar a taxa de 20% para 14% e, descontada a inflação, fica abaixo do concorrente. No cálculo de 6,69% de juros reais ao ano é levada em conta a taxa de depósito interbancário (DI) de um ano e a carestia do período medida na pesquisa Focus do BC. O Brasil voltou ao topo do pódium e recebe a “medalha de ouro” dos juros mais abusivos batendo Colômbia, México, Indonésia, Chile e a própria Rússia. Dificilmente perderá essa condição ao longo do ano – muito embora não haja nada a comemorar nesse sentido. Para se ter uma ideia do movimento global de políticas monetárias, de 166 países analisados, 67,47% mantiveram os juros e ainda 2,41% cortaram. O Brasil está no lote dos que subiram e não perdeu para ninguém nessa corrida. Em “compensação”, o salário mínimo no País, que pela primeira vez desde o advento do Plano Real perdeu poder de compra, coloca o presidente Bolsonaro na condição de único mandatário a deliberar um reajuste inferior ao custo de vida em quase 30 anos. Título também nada abonador. A combinação de juros altos e inflação idem vem travando o planejamento das empresas e, na prática, freando as chances de retomada. As companhias não estão conseguindo sequer prever custos e, por isso mesmo, paralisam os investimentos e vão vivendo de remarcações. O pior dos mundos, experimentado por aqui nos anos 80 em um grau que ninguém quer ver voltar. No Banco Central, a palavra de ordem continua a mesma: o arrocho vai longe e, caso a campanha eleitoral e as medidas populistas prejudiquem ainda mais o ambiente, a dosagem será ainda pior.

Carlos José Marques Diretor editorial