Não se pode negar, o novo ministro da Economia tem peito. Vai na “casa” do empresariado, a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), para um convescote que tinha de tudo para evoluir entre brindes e reverências, e resolve morder a maior iguaria financeira que dá sustento àqueles comensais. O Sistema S, que arrecada direto das folhas de pagamentos das empresas cerca de R$ 17 bilhões ao ano, vai entrar na “faca” dos cortes pretendidos por Guedes para abrandar o peso tributário da produção. Notícia, no mínimo, indigesta para as entidades e seus dirigentes tomados de surpresa pelo apetite do convidado. Entre sorrisos amarelos e olhares espantados, Guedes não mediu as palavras. Direto como faca amolada, adiantou o tamanho do pedaço que irá retirar do bolo de recursos cobrados desde os idos de 1942, ainda na Era Vargas, quando o imposto foi criado. Se a conversa for boa, avisou o ministro, ficará com 30% das receitas. Tomada na marra, a fatia pode alcançar 50%. A plateia ensaiou resistência. O anfitrião, Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, presidente emérito e membro de uma das mais tradicionais famílias cariocas, tentou manter a fleuma, mas partiu à reação: “Queremos debater ou será terra arrasada”.

Dirigentes das demais associações patronais, logo a seguir, saíram no mesmo tom, reclamando do que consideram falta de informação do futuro czar. Não é de hoje, seguidos governos tentam, ameaçam e estudam abrandar os valores recolhidos pela Sistema S, cuja contribuição gira em torno de 2,5% do gasto com folhas de salários. Nenhum conseguiu. É imperioso observar que o modelo em voga mobiliza milhões de empregos, curso técnicos e de ensino básico, afetando significativamente uma parte importante da força de trabalho brasileira. Mexer nessa engrenagem requer sensibilidade e destreza. Guedes está disposto a encarar o desafio. Ele entende que a exemplo de outros programas – incluindo o Bolsa Família e o imposto sindical – o S padece de desvios e desperdício, financiando mordomias e obras desnecessárias. Para contar com alguma cumplicidade dos dirigentes patronais, Guedes ainda provocou: “Vocês estão achando que a CUT perde sindicatos (pela eliminação do imposto sindical) e aqui fica tudo igual, o almoço é bom desse jeito, ninguém contribui?”. Essa é uma discussão que ainda vai se alongar por algum tempo. O tamanho do sacrifício que cada setor estará disposto a dar para equalizar as finanças públicas sempre esbarra na resistência dos que desejam que a conta fique do outro lado. O Sistema S, obviamente, é um pilar fundamental do mercado e deve ajudar numa retomada mais acelerada do crescimento. De todo modo, a bem da transparência e da revisão de métodos, também ele pode e precisa ser estudado em todos os seus aspectos, até para ganhar maior eficiência.

(Nota publicada na Edição 1101 da Revista Dinheiro)