Nas discussões sobre ESG (ambiental, social e governança), o agronegócio brasileiro é o setor que tem sofrido mais com o escrutínio internacional. São atribuídos à produção das commodities agrícolas os sucessivos recordes de queimadas e desmatamento da Floresta Amazônica que chegou a 8 mil km2 em 2020, o maior dos últimos dez anos. “Depender da soja brasileira é endossar o desmatamento da Amazônia”, disse o presidente da França, Emmanuel Macron, em janeiro. Ainda que a falta de punição dos criminosos que derrubam árvores ilegalmente seja um problema grave, a fala do líder francês é o tipo de declaração que não ajuda o Brasil a resolver o problema e mostra, no mínimo, desconhecimento. A soja produzida no bioma Amazônia no Brasil é livre de desmatamento desde 2008, graças à Moratória da Soja.

Problemas de fato existem, mas alguns dados ajudam a mostrar outros equívocos no discurso europeu. Desde 1990, a área plantada no Brasil cresceu 81%. Hoje, são 64 milhões de hectares cultivados com grãos. No mesmo período, a produção cresceu 376%, por meio de tecnologias e melhores práticas. “Se a gente tivesse a produtividade de 1990, seriam necessários mais de 109 milhões de hectares para alimentar toda a população que consome commodities brasileiras. É sustentabilidade na veia”, disse Roberto Rodrigues, coordenador do FGV Agro e ex-ministro da Agricultura.

De acordo com a Embrapa, dos 8,5 milhões de km2 do território brasileiro, 9% são ocupados por culturas agrícolas, 21% por pastagens e 66% por biomas nativos. Em função do código florestal, cerca de 26% do total das áreas preservadas estão nas fazendas. Por lei, qualquer produtor da região Sul precisa manter 20% de área nativa, no cerrado esse percentual sobe para 35% e na Amazônia é de 80%. Além disso, empresas brasileiras estão investindo em tecnologias eficientes do ponto de vista ambiental e produtivo como a Integração-Lavoura-Pasto-Floresta (ILPF) e o Plantio Direto.

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“Hoje, o ecossistema vem sendo moldado não apenas pelas demandas dos compradores, mas também do mercado financeiro” Pedro dinucci Usina São Manoel.

BOAS PRÁTICAS Um bom exemplo de agricultura sustentável vem da SLC Agrícola. Com uma produção anual de 450 mil hectares de algodão, soja e milho em 16 propriedades, a empresa tem como meta reduzir em 25% as emissões de carbono até 2030. De acordo com o CEO Aurélio Pavinato, o objetivo é atingir esse objetivo por meio de práticas da agricultura regenerativa como o plantio direto. “Conseguimos sequestrar 300 kg de carbono por hectare a cada ano”, afirmou. A estratégia permitirá a empresas entrar no mercado livre de carbono e reforça o posicionamento sustentável da companhia que no ano passado fez sua primeira emissão de títulos verdes, captando R$ 480 milhões em Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs).

Outra técnica de beneficiamento de solo sem emissão de CO2 bastante comum vem da cultura da cana-de-açúcar: o uso de bioinsumos. Para aliar produtividade e sustentabilidade, a Usina São Manoel (SP), fabricante de etanol e açúcar passou a usar os resíduos gerados pelas 4 milhões de toneladas de cana do seu processo produtivo como complemento à adubação. O bagaço é utilizado como fonte primária de energia, reduzindo o consumo de combustíveis fósseis. Agricultura de precisão e rotação de culturas também são aplicadas na usina. “Hoje, o ecossistema vem sendo moldado não apenas pelas demandas dos compradores, mas também do mercado financeiro”, afirmou Pedro Dinucci, diretor-superintendente da usina.

Promover boas práticas não é o caminho mais fácil e nem o mais barato. A Syngenta anunciou que investirá US$ 2 bilhões em agricultura sustentável até 2025. O foco é reduzir a pegada de carbono e ajudar os produtores a enfrentar as mudanças climáticas. Uma das ações já em andamento junto a Embrapa e outros players do setor é a adoção da prática de ILPF em mais de 17 milhões de hectares no Brasil. Além disso, já recuperou 6,3 milhões de hectares de terras agrícolas à beira da degradação por meio de práticas de agricultura regenerativa.

66% do território brasileiro é ocupado por vegetação nativa, segundo a embrapa. o país também tem mais de 9 milhões de hectares de árvores plantadas pela indústria de papel e celulose.

A empresa, porém, sabe que não conseguirá fazer tudo sozinha. Para Juan Pablo Llobet, diretor regional da empresa para a América Latina, o envolvimento da cadeia e a transparência são fundamentais. “Para o agro brasileiro ser reconhecido pela sustentabilidade, temos que comunicar o que vem sendo realizado”, disse Llobet. Ele está certo. Pesquisa da consultoria PwC sobre a importância da agenda ESG no agronegócio indica que 47% dos entrevistados acreditam que o acesso a informações sobre práticas ambientais, sociais e de governança é tão importante quanto o acesso aos dados financeiros da empresa. O mercado internacional está cobrando por isso. Caso o Brasil não demonstre estar em conformidade com as diretrizes internacionais, o impacto na economia brasileira pode ser de cerca de US$ 100 bilhões, para menos. Esse foi o volume exportado pelo agronegócio no ano passado e que corre o risco de entrar em uma curva decrescente se os mercados compradores enxergarem o País como inimigo do meio ambiente.

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