Líder global em tecnologia de banda larga via satélite, a americana Hughes se prepara para seu quinto grande ciclo em solo brasileiro. O primeiro deles ocorreu a partir de 1968, quando venceu a concorrência do governo para operar os primeiros satélites. Nas décadas de 1980 e 1990, a companhia avançou em sua operação, ao montar hubs e terminais remotos, principalmente para grandes bancos, que iniciavam seus processos de digitalização e automação. Esse modelo de venda e operação de equipamentos se esvaiu e a empresa se adaptou, ao colocar em prática sua terceira fase, prestar serviços de tráfego de dados, a partir de 2003. A quarta etapa veio em 2016, quando lançou a HughesNet, entrando no mercado de internet banda larga para consumidores residenciais de regiões afastadas dos grandes centros urbanos, fatia que hoje representa 70% do faturamento local. Agora, o quinto ciclo é vislumbrado na órbita do 5G, cujo leilão deve ser realizado pelo governo federal no primeiro semestre de 2021.

A Hughes não entrará na disputa, mas está de olho nas possibilidades da nova geração de internet. “É provável que a necessidade de backhaul (infraestrutura complementar) via satélite aumente muito. Estamos bem posicionados para oferecer isso a operadoras de telefonia celular”, afirmou à DINHEIRO Rafael Guimarães, presidente da Hughes no Brasil. O setor comercial da companhia americana já está em contato com as grandes operadoras que atuam no Brasil. Na visão da empresa, o backhaul da Hughes – uma rede de telecomunicações responsável por fazer a ligação entre o núcleo da rede e redes periféricas – vai funcionar como a last mile de entrega na área de logística. As operadoras dificilmente vão investir na implantação de fibra ótica para o 5G em áreas de difícil acesso – isso nem sequer aconteceu com as gerações anteriores de internet. “A fibra ótica não se paga nesses casos. O satélite é a melhor opção. É nicho, mas é oportunidade para nós, porque as operadoras vão precisar”, disse.

SHARE CRESCENTE A expectativa é de expandir os contratos corporativos, que até 2016 eram a principal fonte de receitas da empresa. Com a HughesNet para pessoas físicas, o modelo de negócio virou. Há quatro anos, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), eram 19,8 mil acessos de banda larga fixa da Hughes no Brasil, com market share de 0,1%, a 26ª colocação no ranking então liderado pela Claro, com 8,5 milhões de acessos e 31,8% do mercado. Houve crescimento ano a ano. Em setembro, a companhia americana registrou 271,2 mil conexões, com 0,8% do bolo e em 8º lugar entre as operadoras – a Claro continua no topo, com 9,8 milhões de acessos e 28,1% de participação. Do fim de 2019 até agora, foram quase 75 mil novos acessos, em crescimento de 38% no número de clientes. “Na banda larga residencial, houve boom nas vendas de março, abril e maio, com a necessidade de as pessoas ficarem em casa. Num negócio baseado em escala, volume é fundamental”, afirmou o presidente da Hughes no Brasil, onde a empresa tem sua maior operação fora dos Estados Unidos.

A demanda aumentou neste ano e foi absorvida por um movimento efetivado ano passado, quando a pandemia do novo coronavírus ainda não assombrava o planeta. Em novembro, a Anatel deu aval à joint venture entre a Hughes e a Yahsat, operadora de satélite do fundo de investimentos árabe Mubadala. Os três equipamentos em órbita da Hughes estavam sobrecarregados no início da pandemia e houve migração de demanda para o satélite da Yahsat, quase vazio. Nesse momento, para aumentar a capacidade de atendimento nos Estados Unidos e no Brasil, além dos recém-lançados serviços nos mercados de Chile, Colômbia, Equador, Peru e México, a Hughes constrói o Júpiter 3, que deve iniciar a operação em 2022. “Agrega muita capacidade em cima do Brasil. Temos muita demanda por pessoas que ainda estão fora da internet”, disse Guimarães. No final das contas, o que a Hughes quer é estar mais conectada a um mundo cada vez mais interconectado. Ela já fez isso quatro vezes. E deu certo.