Existem duas maneiras de ler números. Como fotografias ou como filme. Para a Nvidia, recomenda-se a segunda. Depois de uma queda de 6,8% na receita anual, de US$ 11,716 bilhões (2018-2019) para US$ 10,918 bilhões (2019-2020) – o exercício fiscal vai de fevereiro de um ano a janeiro seguinte –, ela abre a atual temporada com forte alta de 39% no trimestre (fevereiro-abril de 2020), com o faturamento saltando de US$ 2,22 bilhões para US$ 3,08 bilhões. Existem também duas formas de atuar em cenários competitivos como o da tecnologia. No palco ou nos bastidores. Mais uma vez recomenda-se a segunda. “Estamos atrás da cena”, afirma à DINHEIRO Márcio Aguiar, que assumiu em maio o comando da Nvidia Enterprise na América Latina, divisão corporativa da empresa – a outra é a unidade de games.

Em meio à pandemia, a companhia reforça o protagonismo ao absorver a demanda por eficiência de processamento de dados de alta performance. Na prática, permite ao funcionário acessar de casa, com seu computador, as máquinas da empresa de maneira potencializada. “O home office abre o mercado para nós”, diz Aguiar. A receita de data centers bateu recorde e atingiu US$ 1 bilhão, crescimento de 80% em comparação com 2019. Na América Latina, o crescimento de vendas geral foi de 14%, com o Brasil responsável por metade do total. Para o segundo trimestre fiscal (maio-julho), a receita projetada é de US$ 3,65 bilhões, crescimento aproximado de 2% sobre 2019, mas ainda não traz o impacto da aquisição da israelense Mellanox Technologies por US$ 7 bilhões. A rara transação, já que a companhia americana não costuma ir às compras, foi finalizada em 27 de abril. A empresa costuma oferecer seus produtos para degustação por 90 dias e efetivar a comercialização só depois disso.

PESQUISADORES DA PETROBRAS Estatal é um dos maiores clientes da empresa. Brasil representa metade da receita na América Latina. (Crédito:Divulgação)

Com a Mellanox, cuja operação continua separada, a Nvidia se fortalece justamente no mercado de servidores, em que os israelenses têm como especialidade a fabricação de chips de alto desempenho de internet e redes InfiniBand. “Aumenta ainda mais as possibilidades do que podemos fazer”, diz Aguiar. A estratégia da companhia, de fazer lançamentos de produtos de 18 em 18 meses, permanece. O mais recente, com um atraso de 60 dias por conta da pandemia, ocorreu mês passado, quando foi anunciada o Nvidia A100. Ele será dedicado ao desenvolvimento de Inteligência Artificial, deep learning e data centers, com introdução da arquitetura Ampere e se junta a outros dispositivos, como os da linha Jetson, que tem como um dos destaques o Nano, menor placa do segmento e que permite o desenvolvimento de milhões de novos sistemas de IA, novas possibilidades de aplicações integradas em IoT e alto desempenho em setores como cidades inteligentes e robótica.

TIME ENXUTO No mundo, a Nvidia possui 16 mil funcionários, metade deles engenheiros de software. Na América Latina são 11 colaboradores. Sim, você leu certo. São 11 profissionais. Como, então, sustentar com pouca mão de obra uma operação complexa em uma região importante do globo? E a resposta está do lado de fora. “Capacitamos nossos parceiros”, afirma Aguiar. “Eles são nossa força de vendas, é esse o nosso diferencial.”

O time comandado pelo executivo trabalha com os clientes para desenvolver as soluções. Após estudarem e entenderem o problema, entra em campo a equipe de engenheiros de software para criar as ferramentas. “Não vendemos produto de prateleira.” No Brasil, a Nvidia tem como clientes desde entidades de ensino, como o Instituto Mauá de Tecnologia, na região do ABC Paulista, à Petrobras – a estatal, aliás, é parceira no Cenpes (Centro de Pesquisas e Desenvolvimento), no Rio de Janeiro, um dos maiores complexos de pesquisa aplicada à indústria de energia do mundo.

MUNDO ACADÊMICO Instituto Mauá de Tecnologia, na Grande São Paulo, é uma das entidades de ensino clientes ou parcerias da Nvidia, que investiu US$ 2,8 bilhões em Pesquisa & Desenvolvimento. (Crédito:Divulgação)

Outra marca é a atuação muito forte junto ao mundo acadêmico e da pesquisa. Nesse campo, realiza trabalho com 28 universidades e instituições de ensino brasileiras ao preparar alunos e formar cientistas de dados. Entre os parceiros estão a Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal Fluminense (UFF) e PUC do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro. O conteúdo utilizado é 90% de expertise da Nvidia, que fornece o material às escolas. “Nosso interesse é capacitar”, afirma Aguiar. No País, são 29 mil pesquisadores que usam as plataformas de software da empresa. “Temos feito um trabalho no Brasil para ao menos dobrar esse número nos próximos anos.” No mundo, são 1,8 milhão.

Apesar de colaborar na formação de novos profissionais, é difícil segurar os talentos no Brasil, pois os destaques são levados por empresas, principalmente dos Estados Unidos e do Canadá. Isso não abala a busca pela inovação. Globalmente, os investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento aumentaram de US$ 2,376 bilhões (ano fiscal 2018-2019) para US$ 2,828 bilhões (2019-2020), alta de 19%. “Estamos focados no desenvolvimento de soluções”, diz Aguiar. Um roteiro que torna protagonista a empresa que prefere o bastidor. E que passa, muito, pelo campo do conhecimento.

Avell promete nova era em notebooks

“Se a necessidade for potência, indicamos [com a nova linha] a melhor placa de vídeo e processador”
Maior fabricante de notebooks de alto desempenho do país, a Avell lançou em evento virtual a linha LIV com placas de vídeo modelo Super da Nvidia, a RTX 2070 e a RTX 2080. A empresa de Santa Catarina é a primeira do País a lançar essa ferramenta. A linha LIV também carrega a 10a geração dos processadores Intel da Série H.

Os seis novos modelos tiveram as características de velocidade potencializadas e de acabamento, modernizadas. São mais finos e mais leves, com 2,58cm de espessura e 2kg. Com todo esse conjunto e a interface de comunicação Thunderbolt, a Avell promete estabelecer uma nova era de computadores portáteis com infravermelho para reconhecimento facial, baterias mais potentes, ação instantânea e conectividade altamente veloz.

“Se a necessidade for potência, indicamos a melhor placa de vídeo e processador”, afirma Emerson Salomão, fundador da companhia, que apresentou as máquinas com Ricardo Ferraz, líder do setor de computadores da Intel no Brasil, e Alexandre Ziebert, gerente de marketing técnico da América Latina da Nvidia.

LANÇAMENTO Com seis modelos, linha LIV da Avell possui placa de vídeo Super da NVIDIA e a 10a geração dos processadores Intel Série H. (Crédito:Divulgação)

Para trazer os produtos, a Avell investiu cerca de R$ 15 milhões. A estimativa é vender mais de 15 mil unidades. A companhia espera fechar 2020 com faturamento de R$100 milhões, quase 50% em relação ao ano anterior. Neste momento de pandemia, a companhia catarinense aumentou a equipe de vendas, ampliou o e-commerce e na manutenção das máquinas em domicílio. Com isso, as vendas aumentaram 30%. No pós-pandemia, Salomão acredita que “o mercado de notebooks profissionais seguirá a tendência de crescimento”.