Nada, nem ninguém, conseguiu prever com todas as letras e tintas o capítulo que a humanidade está escrevendo agora. O ser humano sempre buscou formas de prever o que o futuro nos reserva. Exemplos não faltam. Milhares de obras cinematográficas e literárias, previsões dos mais variados tipos, cartas de tarô, leitura de mãos, horóscopos, o tema do que vai acontecer no futuro sempre atraiu interesse. Diante desta Pandemia que quase eclipsou o planeta, a única certeza que temos hoje é a da frase formulada, há milhares de anos, pelo grego Heráclito: “A única constante é a mudança”. E é aí que a cabeça precisa estar focada. Como devemos aceitar essa mudança e reagir a ela? Qual será o futuro do trabalho?

Se antes da crise, construir objetivos comuns era o sonho de muitas empresas, em tempos de pandemia passou a ser vital para manter os colaboradores, em isolamento, nas próprias casas, produtivos. Fatores como união e colaboração, otimização de recursos e foco no essencial. Hoje, todos os recursos precisam ser utilizados de modo consciente e direcionados aos objetivos da organização, sem espaço para ego ou caprichos.

Adotar novos comportamentos sempre foi complicado, até quando tínhamos uma rotina conhecida, em ambiente de trabalho controlado. No momento atual, adotar um modelo mental que nos permite avaliar o que está ao alcance, tendo consciência do ambiente, é de grande ajuda. Não só para passar por essa crise com o menor prejuízo possível, mas também para adquirir um aprendizado de vida.

A antiga hierarquização dos ambientes de trabalho, que já era criticada antes da Pandemia, foi sendo derrubada como um dominó a cada reunião virtual, flexibilização de horários, respeito às demandas e metas em prol do objetivo comum das equipes, a fim de gerar um bom resultado para as empresas. Assim, foi ficando claro para todos que a saúde da companhia reflete diretamente na renda de cada indivíduo e na economia como um todo.

Na década de noventa, o exército americano criou o conceito de ambiente VUCA, acrônimo de volatilidade, incerteza (uncertainly em inglês), complexidade e ambiguidade. A ideia era ajudar a lidar com situações em que o planejamento tradicional não tem eficácia e o tático pode ficar obsoleto antes de sair do papel devido à quantidade e complexidade das variáveis envolvidas. Hoje, o conceito faz sentido quando reverbera a constatação de que não estamos tão acostumados ao caos como pensávamos e nos adaptar em tempos de quarentena é crucial para nossa vida pessoal e profissional.

Em meio a tantas mudanças que aconteceram sem nenhum aviso prévio, acabamos por esquecer de nós mesmos. Sobrecarregados com incertezas e insegurança sobre o futuro, adotamos um estado constante de estresse emocional, oriundo de um ambiente social, político e econômico totalmente novo. Muitos fatores tiraram nosso foco e, portanto, é compreensível um certo surto de ansiedade, porém foi preciso quebrar esse ciclo. Focar naquilo que não podemos mudar, esgota energias e não é nada efetivo para a solução dos problemas de casa, que hoje também é o ambiente de trabalho.

Mesmo com a volta parcial ou total ao antigo ambiente de trabalho, ainda com certa insegurança, mas com muita esperança por dias melhores, já se percebe uma tendência forte em prol de relações mais horizontais e menos hierarquizadas. O foco no resultado de cada um e como este se conecta na estratégia planejada de forma macro leva à valorização do indivíduo que busca o feedback, tem um mindset mais colaborativo e focado nesse objetivo comum. Menos chefes e mais pessoas geram um movimento de desburocratização com ganho de agilidade nos processos já que o poder passa a emanar do coletivo liderado.

A verdade é o que o novo normal de hoje parece até um pouco menos VUCA porque já se percebe a união de pessoas, menos por questões de origem e espaço físico, e mais por suas convicções, objetivos e motivações. Ninguém sabe como o mundo será a partir de agora, mas com certeza ele vai ser construído por aqueles que conseguiram se unir em torno de um objetivo comum, pelo empenho em torná-lo realidade, por aqueles que hoje entendem que fazem parte de um coletivo que faz girar a roda da humanidade.

* Marcio Welter é CEO e Fundador da LUMEN Educação Corporativa e Experiências de Aprendizagem, criador do método de produtividade e efetividade “Mindsetividade”. Trabalha com grandes empresas do país na melhora da performance organizacional e de seus colaboradores.