O bordão é do ex-presidente (e provavelmente o próximo) Luiz Inácio Lula da Silva, mas hoje se encaixa melhor ao Jair Messias. Por várias razões. Nunca antes na história da República um chefe de Estado conseguiu desagradar a tanta gente, num período tão curto de tempo. Apenas para citar os mais recentes, para não ter de mencionar a carnificina da pandemia ou o troca-troca de ministros, ele desapontou a patota do 7 de Setembro ao dar um cavalo de pau em marcha à ré nos ataques ao Supremo Tribunal Federal. Ficaram com cara de ressaca do 7 a 1 daquele fatídico Brasil e Alemanha. Agora, os que insistem em defender o presidente mantêm a teimosia para não ficar feio nos grupos de WhatsApp. Decepcionou também a cúpula militar das Forças Armadas, avessa à balbúrdia social e à troca de farpas entre os poderes, que tanto excitam o presidento e seus rebentos.

Bolsonaro conseguiu frustrar, de novo, a galera da Faria Lima. O voto de confiança no liberalismo econômico e no choque de gestão elegeu um intervencionista de quinta categoria e um promotor do caos e da instabilidade. Inflação fora de controle, dólar nas alturas, desemprego recorde e crise de imagem mundo afora são apenas alguns dos ingredientes que prenunciam a queda do desgoverno. Na última quinta-feira (16), ao assinar o decreto que aumenta alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) até o fim do ano, com objetivo de cobrir o reajuste de 50% do novo Bolsa Família, o presidente e sua trupe fortalecem o viés populista e improvisado deste governo, às vésperas da corrida pela reeleição. Ao aumentar o imposto em plena crise, Bolsonaro e Paulo Guedes cospem em todas as cartilhas liberais de boas práticas tributárias, aprofundam a dificuldade do setor produtivo e demonstram não ter estratégia alguma para reativar a economia.

Não que seja errado promover uma reengenharia da máquina pública para distribuir renda. No segundo País mais desigual do mundo num ranking do Banco Mundial com 180 economias, atrás apenas do Catar, é mais do que natural o Estado entrar em cena para atenuar os contrastes. O problema está na incoerência do discurso, na falta de previsibilidade e na utilização dos mesmos mecanismos de sempre para estancar a hemorragia dos índices de reprovação do governo. A decisão de distribuir renda sem gerar renda (leia-se crescimento econômico) é um claro gesto de desespero eleitoral. A canetada desastrosa no IOF vai tirar R$ 2 bilhões do sistema financeiro até o fim do ano, mas manterá o governo dentro das quatro linhas da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que só permite novos gastos correntes sustentados por fontes próprias de financiamento. No fim das contas, a alta do IOF será um peso a mais no bolso já vazio do trabalhador e terá um custo político adicional ao atual governo.

Aos poucos, para os que ainda não perceberam, Bolsonaro vai se revelando. Segue derretendo nas pesquisas de intenção de voto e nos índices de popularidade, em uma velocidade nunca antes vista. Dia após dia, com uma incompetência de causar inveja à ex-presidente Dilma Rousseff, pavimenta o caminho para o retorno de seu arquirrival Lula ao poder. Nunca antes na história deste País a política e a economia estiveram tão sem rumo.