O Brasil voltou ao jogo nas palavras do presidente Temer e essa segurança está amparada não apenas nos sinais positivos que a economia vem emitindo. No plano do gasto público, o governo tem se esforçado para exibir um perfil saudável do endividamento federal. A disposição neste sentido já surte algum efeito. Na semana passada, o Ministério da Fazenda revelou que no orçamento deste ano sobrou espaço para mais R$ 89 bilhões em investimentos. Tudo graças à disciplina espartana empreendida ao longo de 2017, que possibilitou uma redução de despesas primárias de R$ 50 bilhões abaixo do teto fixado para aquele exercício, valor que se transformou numa margem extra para ser usada agora.

Em que pese a conquista, ainda não dá para comemorar. Os números, embora apontem na direção rumo à estabilidade das contas do Tesouro, ainda estão dentro de uma equação de déficit, da ordem de R$ 124 bilhões para 2018. O rombo só será definitivamente banido com a aprovação de reformas como a da Previdência, que entra em etapa decisiva logo após o Carnaval. Só para se ter uma ideia, o aumento do déficit com aposentadorias entre 2016 e 2017 girou em torno de 18,5%, acentuando um buraco que não fecha. Em qualquer hipótese, faça esse governo o malabarismo que for, a melhoria fiscal não é sustentável no médio e longo prazo na toada em que o País segue.

Chega a ser heroico o exercício da equipe econômica para encontrar saídas alternativas. As boas práticas precisam estar acompanhadas de apoio, tanto no plano político como no social, com a conscientização de todos sobre o momento vivido. A herança maldita recebida – especialmente das desastrosas gestões petistas que estouraram o caixa – ainda apresenta um alto preço. O Tesouro continua a necessitar de R$ 208 bilhões em recursos para cumprir a “regra de ouro”. De onde virá o dinheiro? Os cortes nos investimentos já foram realizados de maneira drástica. O presidente Temer adotou, desde que assumiu, medidas emergenciais que surtiram efeito, como o controle orçamentário das estatais e do próprio endividamento do Estado.

As receitas extras não vieram, muito em virtude dos seguidos anos recessivos que comprometeram a arrecadação. Aos poucos o cenário vai mudando a muito custo. Para os especialistas, sem as mudanças estruturais, nada estará garantido. Nem o melhor dos governos conseguirá. Um desafio que se apresenta não apenas agora como também para aquele que deve assumir o mandato após as eleições. A batalha começou. É apartidária e interessa indiscriminadamente a cada brasileiro. Que números saudáveis surjam daí.

(Nota publicada na Edição 1055 da Revista Dinheiro)