Tempo bom para o algodão brasileiro. A safra que está sendo plantada agora deve levar o Brasil à auto-suficiência na produção da mais importante matéria-prima da indústria têxtil do País. A estimativa dos produtores é que o volume total produzido em 2001 chegue a 870 mil toneladas, 220 mil a mais que a safra colhida há 30 dias ? e 20 mil toneladas a mais do que o consumo interno previsto para o ano que vem. Só o Estado do Mato Grosso será responsável pela produção de 400 mil toneladas de plumas de algodão. O primeiro resultado positivo será na balança comercial do setor têxtil, que com o equilíbrio na cadeia produtiva do algodão terá seu primeiro superávit desde 1994, quando o saldo da balança comercial foi positivo em US$ 80 milhões. Para o próximo ano, a indústria têxtil estima um superávit de US$ 300 milhões. Este ano as importações de algodão ainda pesarão na balança dos têxteis, que deve fechar o ano com déficit de US$ 250 milhões, justamente o total gasto com a importação de algodão da China e dos Estados Unidos.

Para chegar à safra recorde, dados da Embrapa indicam que a área plantada está sendo ampliada dos atuais 820 mil hectares para cerca de 1 milhão de hectares. Em todo o Brasil, os investimentos no plantio de algodão ? chamado de cotonicultura ? beiram US$ 1 bilhão. Os produtores estão sendo animados a pôr dinheiro nos floquinhos brancos devido a queda dos estoques mundiais. Eles diminuíram de 9,2 milhões em 1999 para 8,3 milhões este ano, e devem chegar a 7,7 milhões no próximo ano. A principal responsável por essa baixa é a China, maior produtora mundial de algodão, que tem substituído suas plantações por culturas de arroz. A queda dos estoques fez com que o preço da arroba saltasse de cerca de R$ 25 há 40 dias para R$ 32 esta semana, estimulando ainda mais o plantio. O foco na qualidade e a implantação de alta tecnologia nas fazendas produtoras de algodão estão tirando a má impressão deixada nos mercados interno e externo nos anos 80. ?O algodão brasileiro tinha alto grau de contaminação, era armazenado em sacos plásticos, sem a menor preocupação com qualidade?, diz o plantador mato-grossense Adilton Sachet. Aumentar a produtividade por hectare também é um dos objetivos dos agricultores. No Mato Grosso, a produção de 1.400 quilos de plumas por hectare na safra de 2001 será das mais elevadas do mundo, uma vez que a média mundial é de 1.200 quilos por hectare. Com essa performance, o Brasil chega a um patamar próximo dos países mais produtivos, como Israel e Austrália. ?A diferença é que as plantações desses países são irrigadas, têm um custo mais elevado que o nosso?, afirma Napoleão Beltrão, da Embrapa. Os agricultores, tudo indica, estão fazendo a parte que lhes cabe: investir. Agora, cobram do governo uma política melhor para a comercialização do algodão. Os bons números para 2001 e a insatisfação com a forma de comercializar o produto ? sobretudo a falta de intermediários qualificados entre plantadores e o setor têxtil ? foram apresentados ao ministro Pratini de Moraes, da Agricultura, na quarta-feira, 31. Ele prometeu avaliar as condições de comercialização do algodão no próximo ano.