Em agosto de 2013, Jeff Bezos desembolsou US$ 250 milhões na aquisição do jornal Washington Post. Desde então, o bilionário fundador da Amazon injetou recursos que fizeram com que o tradicional periódico figurasse, neste ano, no ranking das empresas mais inovadoras do mundo, segundo a revista americana Fast Company. Bezos não está sozinho nessa corrida. Outros nomes ligados ao setor de tecnologia, com contas bancárias polpudas, estão investindo no segmento de mídia. A viúva de Steve Jobs, Laurene Powell Jobs, comprou a revista The Atlantic, em 2017. O fundador do eBay, Pierre Omidyar, criou a First Look Media, que publica o site de notícias Intercept, em 2014. E o Facebook, de Mark Zuckerberg, criou uma revista de negócios na Inglaterra.

Essa lista ganhou mais um integrante: Marc Benioff, cofundador da companhia americana de computação em nuvem Salesforce. Dono de uma fortuna estimada em US$ 6,6 bilhões, ele anunciou a compra da revista americana Time, por US$ 190 milhões, no domingo 16, em conjunto com sua mulher Lynne. “A Time sempre foi um reflexo confiável do estado do mundo, e nos lembra que os negócios são uma das principais plataformas para mudanças”, declarou, em um comunicado. Eles ressaltaram ainda que a aquisição, prevista para ser concluída em outubro, não tem qualquer relação com a Salesforce. “Os Benioffs estão comprometidos, assim como a Time está, em debater ideias e com o jornalismo de alta qualidade”, afirmou o editor da publicação, Edward Felsenthal, em nota. O acordo integra uma estratégia da Meredith Corporations, grupo que comprou a Time Inc., por US$ 2,8 bilhões, há oito meses. A partir da aquisição, a companhia deixou claro que os planos incluíam vender parte dos títulos da empresa, entre eles, as revistas Sports Illustrated e a própria Time. A transação teve apoio financeiro da Kosh Industries, que investiu pesado em produção de conteúdo.

Do outro lado do balcão, Marc Benioff pediu que os jornalistas da Time fizessem uma reflexão. “Como será a Time em 2040? O que ela significará para as pessoas daqui a várias décadas?”, disse. Os passos daqui para frente ainda são desconhecidos. Mas a aquisição de títulos de mídia por nomes de peso da tecnologia é vista como um passo inteligente, pelo fato desses acordos abrirem espaço para a aplicação de conceitos difundidos pelo setor na “nova” área. O uso do Big Data é um exemplo. “Com base no perfil dos leitores e dos conteúdos mais consumidos por eles, é possível criar uma curadoria de informação muito rica”, diz Diego Oliveira, professor de mídia e dados da ESPM. “Mesmo sem interferência editorial, esses recursos permitem ampliar o número de leitores no impresso e no digital, além de desenvolver novas oportunidades de negócio.”