Os detratores do passe sanitário na França saíram às ruas de várias cidades do país neste sábado (14), pela quinta semana consecutiva, para protestar contra o estabelecimento deste dispositivo, necessário para acessar a maioria dos locais públicos.

Esse passe, que atesta que a pessoa está totalmente vacinada contra a covid-19, é necessário para tomar um café, ir ao cinema, ao museu ou usar o transporte público na França. Sem ele, um teste de diagnóstico negativo pode ser apresentado.

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Para o presidente Emmanuel Macron é a forma de promover a vacinação, proteger a população e evitar novos confinamentos.

Para seus detratores, a lei aprovada no final de julho é um abuso de poder que atenta contra as liberdades, divide e segrega.

“Vamos libertar a França”, “Vamos parar a coronaloucura”, “Pegue seu passaporte, Macron, e vá embora”, gritavam os manifestantes em Paris.

Vários grupos participaram do protesto na capital francesa: a extrema direita, militantes antivacina, ‘coletes amarelos’ – que organizaram protestos em 2018 e 2019 -, e numerosos cidadãos que se opõem à medida.

“Não posso ir onde quero”, reclamou Marie Huguet, uma aposentada.

“Há uma divisão entre quem não tem passaporte e quem tem, ou seja, entre os privilegiados e os demais”, denunciou Béatrice Cazal, de 47 anos, em Paris.

– “Ditadura sanitária” –

Desde o início de julho, essa onda de protestos não para de crescer. Na semana passada, cerca de 237.000 pessoas foram às ruas da França, de acordo com o Ministério do Interior.

De acordo com o coletivo Le Nombre Jaune, que publica dados de protestos no Facebook, pelo menos 415 mil pessoas foram às ruas da França na semana passada.

O protesto já supera o movimento antivacina e os manifestantes acusam o governo de subestimar a mobilização.

Neste fim de semana, 200 manifestações estão planejadas em toda a França.

Em Toulon, no sudeste, cerca de 22 mil pessoas, segundo dados da polícia, saíram às ruas para protestar, apesar do intenso calor registrado.

“Viemos por eles, para que não sejam transformados em cobaias”, comentou à AFP uma mãe acompanhada por sua filha de 16 anos.

“Eu me oponho à obrigação de ser vacinado, especialmente porque ainda estamos testando as vacinas”, disse Marie, uma enfermeira de 36 anos em Lille (norte), que assegura preferir mudar de emprego a ser vacinada à força.

Atualmente, na França, 68% da população (cerca de 46 milhões de pessoas) recebeu pelo menos uma dose da vacina contra a covid-19 e 57,5% recebeu ambas. O número de casos diários de coronavírus gira em torno de 28.000 e a situação é especialmente crítica nos territórios ultramarinos, como Guadalupe e Martinica.

Os manifestantes franceses denunciam uma “ditadura da saúde”, uma acusação que ultraja o governo.

Na Martinica, que teve que restabelecer o confinamento devido ao grave aumento de casos, o Ministro da Saúde, Olivier Verán, considerou esta semana que “muito se fala” sobre estes protestos, que carregam “várias faixas, motivos duvidosos e muitas vezes nojentos”.

O governo francês espera vacinar 50 milhões de cidadãos com pelo menos uma dose da vacina até o final de agosto.

Nos territórios ultramarinos, a vacinação é muito mais lenta e é por isso que a variante Delta do coronavírus atingiu duramente, disse o primeiro-ministro francês, Jean Castex.

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