Por Roberto Samora

SÃO PAULO (Reuters) – A Eletrobras, maior elétrica da América Latina, tem tudo para seguir líder durante um processo de transição energética, mas precisa estar capitalizada para enfrentar um ambiente competitivo e investir em novas tecnologias, o que reforça a importância da desestatização da empresa, disse o novo presidente da companhia, Rodrigo Limp, em cerimônia de posse.

“Para que a Eletrobras consolide sua liderança no setor, para que seja protagonista na expansão do setor elétrico brasileiro, a companhia precisa estar capitalizada, com capacidade de investimento e ter competitividade frente a outros agentes… Neste sentido é muito importante avançarmos no processo de capitalização da Eletrobras”, disse Limp.

O executivo lembrou que o setor elétrico brasileiro demandará investimentos nos próximos dez anos de mais de 360 bilhões de reais em geração e transmissão de energia, e por isso a empresa precisa de recursos.

“O setor elétrico passa por um processo de modernização, em que se desenvolvem novas tecnologias… e caminha para um ambiente cada vez mais competitivo, descarbonizado, descentralizado, digitalizado e com crescente diversificação das fontes na nossa produção de energia elétrica”, afirmou ele.

Limp disse que a companhia deverá seguir na “racionalização de suas participações societárias” e buscando novos modelos de negócios “aderentes ao ambiente do setor elétrico, que permita criação de valor de forma sustentável”.

A empresa, que vendeu distribuidoras deficitárias nos últimos anos, deverá encerrar 2021 com participações em 49 Sociedades de Propósito Específico (SPEs), versus 178 em 2016.

Limp, ex-secretário de Energia Elétrica do Ministério de Minas e Energia e ex-diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), foi indicado pelo governo do presidente Jair Bolsonaro para substituir Wilson Ferreira Jr., que esteve à frente do amplo processo de desinvestimentos da Eletrobras, incluindo redução de custos por meio de programas de demissões voluntárias.

O novo CEO, que ressaltou ter “certeza” que chega hoje a uma “casa muito mais organizada e preparada para o futuro do que estava anos atrás” –antes da gestão de Ferreira Jr, que saiu para ser CEO da BR Distribuidora –, evitou falar a palavra privatização no seu discurso.

Mas, por meio da chamada “capitalização”, o governo deverá diluir sua participação no capital da companhia, obtendo recursos com o processo para pagar bônus de outorga ao governo federal pela renovação de contratos de hidrelétricas.

A elétrica ainda se comprometeria a aportar recursos na chamada Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) –um fundo que custeia diversos subsídios embutidos nos custos da energia– para aliviar as tarifas de energia, uma vez que as suas hidrelétricas com contratos renovados passariam a vender uma eletricidade mais cara.

Pelas estimativas do governo, a privatização da Eletrobras renderia 25 bilhões de reais ao Tesouro e valor da mesma ordem a ser aportado ao longo do tempo pela elétrica na CDE.

Na véspera, o secretário da Desestatização do Ministério da Economia, Diogo Mac Cord, disse a jornalistas que o governo brasileiro espera concluir o processo de privatização da Eletrobras até janeiro de 2022, em meio à expectativa de que a medida provisória que abre espaço para a operação possa ser votada na Câmara dos Deputados na semana do dia 17 deste mês.

O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, ressaltou a importância de a Eletrobras se modernizar, lembrando que no futuro o consumidor poderá escolher os seus fornecedores de energia.

“A Eletrobras precisa estar apta a vencer os desafios, para entregar energia limpa, segura e a preços competitivos”, declarou ele, após a posse de Limp.

Albuquerque também afirmou que a Eletrobras tem “potencial de geração de valor sem as “amarras estatais”, e que o governo tem trabalhado em políticas públicas alinhadas aos melhores conceito de governança e com respeito aos contratos.

(Por Roberto Samora)

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