Preocupados com quatro mortes relacionadas ao novo coronavírus no Irã, Bagdá e Kuwait decidiram proibir, ou limitar, as viagens de e para a República Islâmica, importante vizinho com um fluxo de milhões de pessoas e mercadorias para o Iraque.

A preocupação é ainda maior uma vez que pelo menos duas mortes e quatro das 18 contaminações no Irã foram registradas em Qom, 150 quilômetros ao sul de Teerã, uma cidade sagrada para os xiitas, maioria no Iraque e presentes no Kuwait.

Muitos estudantes de religião de Qom viajam para o Iraque durante o ano todo em peregrinação a Kerbala e Najaf, ao sul de Bagdá, e o líder xiita Moqtada al-Sadr, personagem importante na política iraquiana, estuda em uma das escolas islâmicas de Qom.

O Irã também é o segundo maior fornecedor do Iraque, e Teerã inunda os 40 milhões de iraquianos com produtos que variam de carros a iogurtes e tomates a cada ano, por um valor estimado de US$ 9 bilhões.

Importante ator econômico – e fornecedor de energia em um país com escassez crônica de eletricidade -, o Irã é finalmente uma força política essencial no Iraque, onde continua a expandir sua influência.

Nesse contexto, a decisão iraquiana de proibir as viagens no Irã é notável: até agora, nem as ameaças americanas de sanções, nem os bombardeios americanos e iranianos em seu solo afetaram o intercâmbio diário.

Na prática, diante do medo relacionado à pneumonia viral COVID-19, Bagdá – que até agora não identificou nenhum caso em seu território – proibiu os iranianos de entrarem em seu território, e seus cidadãos, de irem para a República Islâmica.

Na quarta-feira, quando o Irã relatava duas mortes por coronavírus, o Ministério do Interior do Iraque anunciou que os iranianos agora podiam entrar sem visto.

Imediatamente, a hashtag “Feche a fronteira” floresceu nas redes sociais. Várias províncias do sul do Iraque, um país que compartilha centenas de quilômetros na fronteira com o Irã, pediram o fechamento dos postos limítrofes.

– Paranoia dos iraquianos –

Reunidas em uma célula de crise, as autoridades cancelaram a isenção de visto na quinta-feira (20), proibiram as pessoas do Irã de entrarem no Iraque e disseram que os postos de fronteira permitirão apenas a passagem de iraquianos. Estes últimos serão colocados em “quarentena por 14 dias”.

Além da triagem nos aeroportos, as companhias aéreas Iraqi Airways e Kuwait Airways anunciaram que vão suspender suas rotas para o Irã.

Pequeno país entre Irã e Iraque, o Kuwait também suspendeu os movimentos de passageiros em seus portos até novo aviso e desaconselhou a viagem a Qom.

Ainda assim, todas essas medidas parecem não acalmar a paranoia dos iraquianos.

Enquanto a epidemia afeta vários países do Oriente Médio – com casos no Irã, mas também nos Emirados Árabes Unidos e no Egito -, os iraquianos se perguntam cada vez mais quais poderiam ser as consequências desta doença em um país com escassez crônica de medicamentos e médicos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), são menos de dez médicos a cada 10.000 pessoas no país.

Sinal da grande preocupação, o grande aiatolá Ali Sistani, a mais alta autoridade xiita no Iraque, denunciou “os problemas do sistema de saúde”, pedindo às autoridades que “estejam no nível” da ameaça.

Nas redes sociais, as opiniões estão divididas. Alguns se preocupam, enquanto outros oferecem soluções mais ou menos engraçadas.

Desde quinta-feira, muitos iraquianos enviam, ou compartilham, orações para manter o vírus afastado, enquanto vídeos filmados no Iraque e no Irã mostram famílias espalhando incenso em suas casas para, dizem eles, matar o vírus.

Enquanto os herbalistas vendem chás de ervas, alguns, irônicos, sugerem como profilaxia beber arak, um destilado alcoólico.