Ir de Nova York à Londres em menos de quatro horas? Sair de Sydney e chegar em Los Angeles depois de sete horas? Vencer milhares de quilômetros em algumas horas de viagem está cada vez mais próximo da realidade. Ao menos é o que apostam as novas empresas focadas na retomada de voos supersônicos.

Os investidores enxergam no mercado asiático um terreno fértil para o desenvolvimento dos projetos. Uma delas é a americana Boom Technology. Com investimento de US$ 85 milhões e grandes parceiros, entre eles a Virgin Atlantic Airways, a empresa já começou sua expansão pelo continente.

Especulações apontam que em dezembro passado a Japan Airlines investiu US$ 10 milhões na encomenda de aeronaves. Neste ano, a chinesa Ctrip, maior agência de viagens da Ásia, também firmou parceria com a empresa americana.

“A China promete ser um dos maiores mercados para viagens aéreas supersônicas. A demanda por viagens aéreas é incrivelmente forte”, afirma disse Victor Tseng, diretor comercial da Ctrip, à CNN Travel .

“Além de uma classe média em crescimento e de ter mais renda disponível, os chineses agora estão cada vez mais interessados ​​em gastar dinheiro em experiências. A viagem se tornou uma forma importante de buscar a felicidade”, complementou.

Primeiro modelo projetado para 2019

A Boom Technology pretende lançar seu primeiro projeto em 2019. O modelo supersônico XB-1, de dois lugares, será a prova da capacidade no novo nicho de mercado.

Caso tudo ocorra como o planejado, a empresa projeta produzir uma frota de jatos supersônicos comerciais. Segundo a Boom, os modelos alcançarão até 23 mil km/h – o dobro da velocidade do som.

Em termos práticos, os aviões encurtariam o trajeto entre Xangai e Los Angeles das atuais 12 horas para a metade. A vantagem impulsionaria o turismo mundial, acreditam os investidores.

“Os países da região Ásia-Pacífico são os destinos mais populares entre os turistas chineses. Uma das principais razões é a menor distância e o tempo de viagem”, diz Tseng. “Basta pensar sobre isso: uma viagem de longa duração pode se tornar uma simples viagem de um dia”.

Sem revelar o quanto investiu na Boom Technology, o representante da Ctrip afirma que a parceria será positiva para ambas companhias. “Através deste investimento estratégico, a Boom nos ajudará a explorar a oferta de 10 a 15 assentos em um dos primeiros [poucos] voos comerciais”, diz.

Aviões mais confortáveis e silenciosos

A era dos voos comerciais supersônicos foi encerrada em 2003 com a aposentadoria dos aviões da Concorde. As operações duraram mais de quatro décadas e o modelo se tornou um marco na aviação mundial.

Os novos investidores dos voos supersônicos apresentam uma proposta diferente dos pioneiros. A Boom projeta os aviões com até 55 assentos, enquanto no Concorde variada entre 92 e 128 lugares.

Mesmo com menos assentos, as tarifas poderiam ser mais acessíveis. Comparado com os cerca de US $ 11 mil a 13 mil cobrados por passagens de ida e volta do Concorde entre Nova York e Londres, as tarifas do Boom custarão uma viagem estimada de US$ 5 mil na mesma rota. Os preços se assemelham aos já cobrados na classe executiva de um avião convencional

“Os designers da Concorde não tinham a tecnologia para viagens supersônicas acessíveis, mas agora temos”, disse Blake Scholl, fundador e CEO da Boom Technology, em entrevista à CNN Money no ano passado.

Segundo o site da empresa, os assentos serão espaçosos, mas não totalmente reclináveis. Cada um fornecerá um armário sob o assento, bem como janelas grandes para visualizar a curvatura da Terra a partir de 60 mil pés de altura.

Atualmente, a viagem supersônica é proibida nos EUA, devido ao som perturbador que ela cria para os moradores no solo. Para aliviar o barulho, o projeto do avião conta com um longo nariz asas maiores.

“Testamos cerca de mil variações de design. A maioria não é muito boa”, disse Scholl em uma apresentação no Paris Air Show em 2017. “Mas tivemos algumas que são”.

Com o design certo, a empresa espera que o avião seja “pelo menos 30 vezes mais silencioso do que o da Concorde”, segundo o site da empresa.

Especialistas questionam viabilidade econômica

Apesar da empolgação dos investidores, o projeto ainda desperta muitas dúvidas entre os especialistas. Entre eles está Peter Goelz, vice-presidente sênior e analista de aviação da O’Neill and Associates.

“Há muitas perguntas a serem respondidas sobre a viabilidade econômica do projeto”, diz Goelz. “Dito isto, admiro o empreendedorismo deles”, complementa.

Para ele, a viabilidade econômica dos novos supersônicos será determinante para a retomada dos supersônicos comerciais.

“Um dos desafios que o Concorde enfrentou foi a troca entre peso e economia de combustível”, diz Goelz. “Eles tinham que reservar cerca de 120 assentos em cada voo para tornar o fator econômico. Mas a maioria das rotas realmente perdeu dinheiro”

Para reduzir o peso e o uso de combustível, a Boom planeja construir sua aeronave usando compósito de fibra de carbono, que é mais leve que o alumínio tradicional.

Outras empresas também fazem testes

Projetando planos à parte, a empresa ainda precisa levantar bilhões de dólares para levar sua primeira companhia aérea comercial ao mercado – para não mencionar o custo de testes, aprovação regulatória, infraestrutura de fábrica e produção em massa.

A Boom Technology não é a única empresa do setor aeroespacial que deseja acelerar pela velocidade do som. A NASA anunciou recentemente uma parceria com a Lockheed Martin para desenvolver um protótipo de aeronave supersônica.

Se tudo correr como planejado, o X-Plane deverá estar concluído em 2021. A NASA fará vôos de teste nas cidades para avaliar os níveis de ruído.

Enquanto isso, a Spike Aerospace, com sede em Boston, também está planejando lançar seu S-512 Supersonic Jet. Com planos de começar a testar este ano, a Aerion Supersonic, sediada em Nevada, espera apresentar seu Aerion AS2 para testes de voo até 2019.

A HyperMach, com sede no Reino Unido, pretende estrear seu Mach 4 SonicStar até 2020.