Apesar dos solavancos, a valorização de cerca de 1.700% nas cotações do Bitcoin em 2017 atraiu novos adeptos à moeda virtual. Neste ano, a queda de 40% desanimou os investidores, mas atraiu a atenção dos empresários interessados em oferecer serviços de negociação com essas moedas. Esses empreendedores viram a diminuição do interesse como um movimento pontual e esperam a retomada da demanda de forma gradativa. Para atender a esse desejo de compra, pelo menos seis e novas corretoras de moedas virtuais, conhecidas como exchanges, começaram a operar no País neste ano. O Brasil se destaca no cenário mundial nesse aspecto, apesar de negociar apenas 0,7% dos US$ 17 bilhões transacionados por dia no mercado global.

Fernando Bresslau vai instalar uma subsidiária da Exchange Argentina Ripio no Brasil ainda este ano (Crédito:Divulgação)

Em maio, uma pesquisa do banco americano Morgan Stanley colocou o Brasil em 7º lugar na lista das nações com maior número de exchanges, com dez delas em atividade. A lista está defasada. “Hoje temos mais de 20 em operação e outras estão por vir”, diz Anderson Nery, fundador da Wuzu, plataforma brasileira que  será lançada em agosto com o intuito de reunir as exchanges e proporcionar liquidez ao mercado. Há bons motivos para essa atração. “As exchanges brasileiras cobram dez vezes mais que a média das corretoras mundiais”, diz Nery. Ele afirma que o País representa 15% da receita desse setor no mundo, embora o volume não chegue a 1%. O aumento da concorrência já está reduzindo as taxas. “Deixamos de cobrar pelos depósitos em reais”, diz Rodrigo Batista, presidente do conselho do Mercado Bitcoin, uma das exchanges mais tradicionais do mercado local, inaugurada em 2013.

A Modiax, que começou a operar no início do mês, é uma das recém-chegadas. Foi lançada por Vinicius Gracia, um dos fundadores do aplicativo Easy Taxi, em parceria com Cassiano Silvestre, ex-vice-presidente do Morgan Stanley na América Latina de 2006 a 2011. “Começamos a operar Bitcoin e, nos próximos meses, devemos incluir outros ativos, como Ethereum, Bitcoin Cash e Ripple”, diz Silvestre. Para colocar o negócio de pé foram investidos R$ 2 milhões provenientes de um fundo global.

A estratégia da corretora argentina Ripio para entrar no Brasil é diferente das concorrentes. A empresa chegou há um ano oferecendo apenas um produto, uma carteira virtual para as moedas. O passo seguinte foi firmar uma parceria com o Mercado Pago, empresa de meios de pagamento do Mercado Livre, que permite aos clientes usar a plataforma de comércio eletrônico para investir em criptoativos. A Ripio deve instalar uma subsidiária completa por aqui até o fim deste ano. “A ideia é criar uma comunidade”, diz Fernando Bresslau, representante local da Ripio. Não foi fácil. “Uma das maiores dificuldades foi conseguir um bom acordo com os bancos para liquidar as operações”, diz ele. “As grandes instituições são muito desconfiadas.” Após meses de negociação ele conseguiu firmar acordos com Neon, Agibank, Banrisul e Brasil Plural.

O Brasil Plural vem investindo nesse mercado. Em maio, o banco adquiriu 18% de participação na Finchain, empresa especializada em blockchain e criptomoedas por meio da sua corretora, a Genial Investimentos. No mês seguinte, ele fechou uma parceria com o Mercado Bitcoin. “Queremos oferecer aos nossos clientes mais informação sobre esse mercado. É o primeiro passo no segmento”, diz Ronaldo Faria, diretor de tecnologia do Brasil Plural. O interesse faz parte de uma estratégia de longo prazo. “Estamos próximos de ter uma regulamentação que vai permitir a operação de fundos de investimento em criptomoedas”, diz Faria. Ele acredita que essa mudança vai popularizar o investimento em ativos virtuais. “O acesso a esse mercado não é tão simples, por isso os fundos podem torná-los mais acessíveis”, afirma.

Rodrigo Batista, do mercado Bitcoin, isentou os clientes de taxas para enfrentar a concorrência (Crédito:Andre Lessa/Istoe)

Os advogados acreditam, no entanto, que a regulamentação dos fundos ainda está distante. “Temos de esperar para ver como se desenvolvem as experiências internacionais, de modo a usá-las como base”, diz Marcos Paiva, sócio do Choaib, Paiva e Justo Advogados Associados. Na avaliação de Maurício Vedovato, sócio da Lilla, Huck, Otranto, Camargo Advogados, a demora na regulação pode ser positiva para o desenvolvimento do segmento. “É necessário que certas tecnologias tenham um tempo de maturação para desenvolver o seu potencial”, diz.

O advogado Fernando Barrueco acredita que é possível trazer inovações ao mercado mesmo sem contar com novas regras. Ele está desenvolvendo a Bolsa de Moedas Virtuais Empresariais de São Paulo (Bomesp), uma plataforma que deve entrar em operação até o fim do ano e permite às empresas criarem as próprias moedas virtuais, que servirão para os clientes pagarem por serviços prestados. “A Comissão de Valores Mobiliários permite a tokenização desde que seja com fins utilitários, e não como ativo de investimento. Essa é a nossa aposta”, diz.