O que Taboão da Serra e a Basiléia têm em comum? No geral, nada. Mas no mapa de negócios da Novartis, o município da Grande São Paulo e a cidade suíça têm pelo menos um ponto a compartilhar: ambos sediam fábricas com vocação exportadora. A da Basiléia faz isso há dez anos, desde que a Novartis nasceu da fusão de Sandoz e Ciba-Geigy. A de Taboão ganhou o carimbo de exportação há poucos meses. ?Vencemos cinco filiais na disputa?, comemora Nélson Mussolini, diretor corporativo da Novartis do Brasil. Vencer, nesse caso, significa receber R$ 250 milhões da matriz para fazer da subsidiária brasileira uma das bases mundiais de venda de insumos e medicamentos genéricos Novartis. É a primeira vez na história da indústria farmacêutica brasileira que um laboratório passará de mero importador a exportador de remédios.

Mas e o câmbio, Mussolini? ?Traremos matéria-prima de fora e exportaremos matéria-prima em produto acabado. Ou seja, a Novartis será uma indústria de transformação, que compra em dólar e vende em dólar.? Portanto, segundo o diretor, a moeda americana tem peso bem menor do que costuma ter, por exemplo, entre os exportadores de grãos. Câmbio à parte, a estimativa da Novartis, com a ?nova? fábrica e com o reforço da produção das unidades de Cambé (PR) e Resende (RJ), é inverter, radicalmente, os pratos de sua balança comercial. Hoje, a Novartis importa US$ 250 milhões e exporta US$ 20 milhões. A partir de 2010, a idéia é fazer com que as vendas externas cheguem a US$ 250 milhões.

?O melhor de tudo é que não houve a necessidade de grandes ampliações físicas na fábrica, apenas adequação das linhas já existentes?, explica Mussolini. Segundo o executivo, havia capacidade ociosa em Taboão – uma das vantagens da unidade aos olhos da matriz. Como a ordem era fazer o projeto no menor tempo, com o menor custo e boa qualidade, o município paulista ganhou a disputa. Estimativas da Novartis apontam para a criação de 300 empregos diretos na planta de Taboão. ?Agora, só falta recebermos as certificações internacionais para começar a despachar genéricos para o mundo?, diz Mussolini. Hoje, Taboão produz um bilhão de comprimidos e a meta é multiplicar por cinco a produção quando toda a reforma fabril estiver pronta. A primeira fase da expansão será finalizada no primeiro trimestre de 2007. A conclusão de todo o projeto está prevista para 2009.

Num futuro breve, estima a Novartis do Brasil, as exportações de insumos e medicamentos genéricos estarão respondendo por 35% do faturamento da companhia. Atualmente, das receitas de R$ 1,2 bilhão, cerca de 4% das vendas vêm do mercado externo. Na estratégia de conquistar o mundo, as movimentações da Novartis já estão desenhadas. Enquanto Taboão se encarrega dos mercados europeu e norte-americano com os genéricos, Cambé abastece a América Latina ? também com genéricos. Resende, que produz farmoquímicos (sobretudo o Valsartan, princípio ativo do anti-hipertensivo Diovan, remédio que rende US$ 3,7 bilhões anuais à Novartis), terá papel fundamental na estratégia de transformar o Brasil em pólo exportador. A unidade ganhou prestígio mundial quando absorveu a produção de uma fábrica americana que apresentava problemas e despachou, para várias filiais, o tal Valsartan. Ao provar que podia fazer parte do rol das melhores fábricas do mundo, Resende recebeu investimento de R$ 54 milhões. Com o acréscimo de parte da produção do Diovan para exportação, a capacidade total da unidade de Resende foi quadruplicada, passando de 130 toneladas para 480 toneladas ao ano. A fábrica passou a exportar três vezes mais matéria-prima. Estima-se que 525 toneladas sejam exportadas até o final de 2006. No ano seguinte, serão 950 toneladas.