No início do ano, a Xerox deu novo ânimo para 200 moradores de Itatiaia (RJ), cidade que marcou o início das operações do grupo americano no Brasil. É que a empresa decidiu retomar parte das atividades realizadas ali e recontratou parte dos ex-funcionários demitidos em 2001, quando a produção da unidade foi transferida para a Flextronics, multinacional de manufatura que faz produtos sob demanda. A terceirização da produção faz parte de um acordo global da matriz para reduzir os seus custos. A Xerox do Brasil, no entanto, analisando melhor o contrato, descobriu que ele só se referia à produção e não a outras operações realizadas na planta fluminense. Sendo assim, reassumiu as funções de remanufatura, reciclagem e da operação do centro nacional de distribuição dos produtos da empresa. O motivo: a empresa viu que poderia tocar essas áreas com mais eficiência. Algumas delas estratégicas para o negócio, como a de remanufatura ? em que se faz o desmanche, a remontagem e a atualização de grandes equipamentos voltados para os clientes corporativos e da área gráfica, que representam um terço do negócio da Xerox no Brasil. Esse processo de retomada das operações que a Xerox está promovendo está sendo chamado por especialistas de ?desterceirização?. ?A terceirização tira o comprometimento dos funcionários. Por isso, as empresas estão revendo o modelo e internalizando alguns trabalhos que saíram de suas mãos?, diz Almiro dos Reis Neto, presidente da Fran Quality, consultoria em Recursos Humanos.

A Xerox não está sozinha neste caminho. Outras empresas também resolveram tomar as rédeas de funções que haviam sido terceirizadas. É o caso da Petrobras. A petroleira descobriu que alguns serviços terceirizados não atendiam as suas especificações. Isso foi detectado em áreas estratégicas, como a de orçamento de projetos de engenharia e a de serviço de sondagem de poços. No primeiro caso, havia um contrato de quatro anos com a prestadora de serviço e quando vencia o compromisso era preciso fazer outra licitação, já que se trata de uma companhia estatal. ?Quando uma nova empresa era contratada precisávamos ensinar todo o processo novamente. Isso levava tempo, além de esbarrar na falta de funcionários da casa para passar o conhecimento, já que eles estão se aposentando. Resolvemos formar gente nova aqui dentro?, explica Mariangela Mundim, gerente de Planejamento de Recursos Humanos da Petrobras. Outras áreas que estão retornando para dentro da empresa são as de manutenção elétrica e eletrônica. O assunto é tão sério dentro da companhia que foi criado um fórum de terceirização, formado por representantes de todas as áreas de negócios, que se reúnem quinzenalmente para avaliar o andamento das prestadoras de serviços.

Há um ano, a Xerox adotou política semelhante a da Petrobras, mas o foco principal da reunião semanal é a redução de gastos, que acaba envolvendo a terceirização dos serviços. Desses encontros, que acontecem desde julho do ano passado, 1500 ex-funcionários foram readmitidos pela empresa. Além da reintegração à fábrica de Itatiaia, grande parte voltou para realizar os serviços de atendimento de suporte técnico e de manutenção e outros tantos atendem grandes clientes dentro de suas instalações, apesar de serem contratados pela Xerox. ?Já economizamos 40% dos nossos custos a partir dos nossos encontros. Num deles, cortamos US$ 6 milhões de gastos de um dia para o outro?, diz Olivier Ferraton, presidente da Xerox do Brasil. E a empresa está precisando mesmo ganhar fôlego. Depois da crise mundial que se abateu sobre a companhia em 2001, causada por erros contábeis no seu balanço, que lhe custou US$ 10 milhões, a Xerox quer reconquistar a confiança do mercado. A desterceirização é uma das suas estratégias, assim como a consolidação de sua posição no mercado de processamento de documentos. Essas iniciativas fazem parte de uma política global da empresa de recuperação de rentabilidade. Chegam no momento certo. A concorrência não dá folga nem a quem já foi soberana um dia.