O território francês da Nova Caledônia, a 18.000 km de Paris, que vota sua independência no domingo (4), é um dos poucos territórios do mundo que escapou da covid-19, e seus habitantes levam uma vida “normal”, conscientes de que “estão em uma bolha”.

“Saímos, vemos nossos amigos, vamos a shows, sem máscaras, ou gestos de barreira”, diz à AFP Yoanna Wiard, diretora de recursos humanos de uma grande empresa.

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“Claro, vivemos normalmente e sabemos a sorte que temos”, acrescenta ela, enquanto a pandemia do coronavírus já causou mais de um milhão de mortes em todo mundo.

“Você não verá máscara aqui”, confirma Viannick, de 46 anos, um indígena caledoniano que mora em Kumac (norte).

“Levamos uma vida praticamente normal, mas sabemos que temos uma espada de Dâmocles acima de nossa cabeça”, reconhece.

Como todos os eleitores do referendo, no domingo ele votará “sem máscara” pela permanência, ou não, do território na França.

No dia 4 de novembro, já foi organizado um primeiro referendo sobre o tema, que resultou na vitória do “não” à independência (56,7%) para essas ilhas, localizadas no Pacífico e no Mar de Coral.

No território, de 270 mil habitantes, foram detectados apenas 27 casos de coronavírus, todos importados, até o momento.

A Nova Caledônia foi o território francês com o menor confinamento, que durou de 24 de março a 20 de abril.

Existe apenas um outro território completamente livre da covid-19, Wallis e Fortuna, também no Pacífico.

Além disso, todas as pessoas infectadas com covid-19 se recuperaram, exceto a última detectada, identificada na última sexta-feira, segundo uma pessoa do território metropolitano e colocada em quarentena por 15 dias.

Desde 20 de março, os voos internacionais foram drasticamente reduzidos. Todos que chegam são transferidos para hotéis que servem de quarentena por duas semanas. Antes de partir de seu local de origem, o visitante deve realizar um teste de PCR, e mais outro, antes de deixar o hotel.

O governo da Nova Caledônia, autônomo em saúde, decidiu estender o dispositivo até 21 de março de 2021.

“Somos uma pequeno povoado gaulês que resiste. À nossa volta, o mundo está testemunhando um recrudescimento do vírus, então temos a responsabilidade de manter a Nova Caledônia nessa situação favorável”, explicou o presidente do governo colegiado, Thierry Santa.

– Férias locais –

Como resultado, “todos revisaram seus grandes planos de férias [de dezembro ao início de fevereiro]”, admite Yoanna Wiard.

“Em vez de partir, os caledônios farão com que a economia viva”, acrescentou.

“É obrigatório”, admite Viannick, que espera impacientemente o filho, preso desde dezembro no Canadá, devido à falta de voos, para finalmente encerrar a quarentena.

“Nas tribos, sabemos que esse vírus é perigoso”, acrescenta Viannick. “Lavamos as mãos, tossimos afastados, os idosos estão muito protegidos. Se eu vir alguém que não conheço, não vou me aproximar”, acrescenta.

“Somos geralmente muito tátil. Adoramos nos abraçar, mas esse costume foi interrompido”, diz.

Para os kanak, a covid-19 lembra a introdução, pelos ocidentais a partir do final do século XVIII, de outros vírus que causaram epidemias letais.

As zonas tribais proibiram desde fevereiro qualquer navio de cruzeiro atracar, apesar de serem uma fonte de renda.

Ainda assim, nos círculos econômicos, há preocupação: 73% das empresas locais registraram queda no faturamento nos últimos seis meses, conforme estudo da Câmara de Comércio e Indústria realizado em agosto.

“Não temos visibilidade para o futuro”, lamenta o presidente da Federação das Indústrias, Xavier Benoist.