O escritor e filósofo italiano Umberto Eco disse pouco antes de morrer em fevereiro de 2016, aos 84 anos, que as “redes sociais deram a palavra a uma legião de imbecis que antes só falavam numa mesa de bar depois de uma taça de vinho, sem causar qualquer prejuízo à comunidade. Eles eram silenciados rapidamente, mas agora têm o mesmo direito de falar que um Prêmio Nobel. É a invasão dos imbecis”. Tão alarmante quanto as opiniões estapafúrdias é a velocidade com que um texto navega pela internet. Pior quando elas vêm fantasiadas de reportagem.

O site BuzzFeed Brasil mostrou que as 10 notícias falsas sobre a Operação Lava Jato tiveram 1,2 milhão de engajamentos a mais no Facebook que as notícias verdadeiras, no ano passado. A invenção ganha força com os compartilhamentos. Quanto mais, melhor. Sempre com o alerta de que o importante é repassar rapidamente, porque os “grandes veículos não vão ter coragem de noticiar”. Nesse terreno, não há qualquer esforço pela confirmação da veracidade. E quem repassa, às vezes, se protege com um “não sei se é verdade, mas…” Dentro desse liquidificador de mentiras, sua empresa pode estar incentivando essa prática perversa.

Os criadores de falsas informações não se preocupam com credibilidade, apenas com os cliques que irão receber. É dessa maneira que são remunerados, pelos anúncios gerados automaticamente pelo Google. O mundo dos negócios não pode mais virar as costas para um problema tão grave e creditar a culpa ao robô. Essa muleta é a preguiça de quem quer colocar na planilha um número irreal de visualizações. Não é saudável permitir que uma marca fique num local que não agrega qualquer valor. Pior: só traz prejuízos à sociedade. Se os parasitas se alimentam de quem fornece comida, a internet é cheia de filtros capazes de estrangular a fonte de receita desses mal intencionados.

Numa edição recente, a Folha de S.Paulo dedicou o caderno Ilustríssima a mostrar o modus operandi de quem inventa uma notícia. É um material para ser lido e relido pelos departamentos de comunicação das empresas. Nele, o jornal usou o exemplo de Beto Silva, um conhecido criador de páginas “informativas” que tem como objetivo atrair milhares de cliques para conquistar anunciantes. Beto Silva não tem ideologia nem se importa de inventar sobre o político de direita ou de esquerda.

Nesses tempos de ódio e intolerância, ele quer apenas entregar a notícia que o leitor torce, a seu jeito, para ser verdade: “Marisa fotografada na Itália. Morte de mulher de Lula é mentira”; “Pegou fogo no circo: Lava Jato pega FHC e o próximo pode ser Aécio Neves” e “Urgente: Bolsonaro é citado na Lava Jato”. Para dar credibilidade àquilo que distorce, monta uma estrutura semelhante à dos grandes veículos de mídia. As empresas que, hoje, não ligam para isso, financiam essa estrutura de “fake news” em até R$ 150 mil por mês – metade desse valor fica com o intermediário.

Em tempos de cuidados extremos com a reputação, não creio que as empresas estão dispostas a deixar que isso tudo continue. Mas, o que espanta, é não terem imposto controles. Já passou da hora do mundo dos negócios exigir o bloqueio àquilo que danifica sua imagem. Ninguém defende a censura, muito menos impedir a liberdade de expressão. Mas que notícias sejam o que devem ser: apuradas, checadas e apresentadas com as devidas fontes. Ao restante, é preciso dar nome e sobrenome e que seus autores assumam os riscos pelas suas opiniões, principalmente daquilo que é mentira para caçar o dinheiro de anúncios por cliques.