23/04/2021 - 11:30
Ele já era bilionário. Havia transformado a Amazon em fenômeno global quando decidiu comprar o Washington Post, um dos jornais mais tradicionais e respeitados dos Estados Unidos. Assim como Jeff Bezos, Rubens Menin já era referência no mercado da construção civil, com a MRV Engenharia, quando tomou a decisão de trazer para o Brasil a franquia de TV CNN. Nessa mesma esteira entra mais um player: Frederico Trajano, CEO do Magazine Luiza. O empresário anunciou, na segunda-feira (19), a aquisição de 25% de participação do portal de notícias Poder360. A compra partiu de uma operação pessoal de Trajano, sem qualquer ligação com a companhia que ele dirige, segundo o empresário. Os valores da transação não foram revelados.
Fundado pelo jornalista Fernando Rodrigues, o Poder360 foi criado em 2000 como um site hospedado no Uol e, em 2016, se transformou em um portal, com cobertura voltada à política nacional e internacional, além de temas econômicos. No mês passado, o site atingiu 9,3 milhões de visitantes únicos e 32,3 milhões de páginas visualizadas.
Além do portal de notícias, a empresa também tem uma newsletter diária; o PoderData, que é a divisão de pesquisas; PoderMercado, que produz os conteúdos patrocinados; e o PoderIdeias, que atua na área de eventos. A empresa não revela o faturamento. Em 2019, a receita do Poder360 obtida de órgãos públicos representou menos de 1% do faturamento anual.
Segundo o jornalista, a entrada do executivo e herdeiro do Magazine Luiza no quadro de acionistas vai contribuir nesse processo de aprimoramento dos canais on-line. “Ele trará sua experiência como empreendedor respeitado e bem-sucedido, com destaque para a área digital”, disse Rodrigues. “Veículos de jornalismo precisam ser também empresas de tecnologia. É necessário melhorar a experiência do leitor em qualquer plataforma.”
TRANSFORMAÇÃO E é justamente nesse ponto que Frederico Trajano mais se destaca. O empresário realizou a transformação digital da gigante varejista nos últimos anos, após série de aquisições de plataformas tecnológicas e ao transformar a empresa em uma potência no comércio eletrônico. Em março, o valor de mercado do Magazine Luiza era de R$ 150,1 bilhões. Agora com 25% da empresa de notícias, o executivo ficará distante das decisões editoriais. Segundo comunicado das empresas, a negociação incluiu uma cláusula específica que garante independência editorial do Poder360. Para Trajano, a compra da participação no site está relacionada à política de inovação tecnológica adotada na companhia. “Quero contribuir para que a empresa se fortaleça continuamente, respeitando seus valores, e para que possa tirar o maior proveito possível das oportunidades que a tecnologia oferece”, disse o CEO do Magazine Luiza, por nota.
Ainda que seja uma aquisição pessoal de Frederico, a compra não é sua primeira empreitada no mercado editorial brasileiro – a diferença é que as demais foram aquisições feitas pelo grupo. Na semana passada, a empresa anunciou a compra do Jovem Nerd, portal que tem 5,5 milhões de inscritos no Youtube e mais de 1 bilhão de visualizações dos vídeos. Em março, a gigante do varejo anunciou a compra do canal digital de moda Steal The Look. Em 2020, comprou o portal Canaltech.
Para Alan Gandelman, CEO da Planner Corretora, a transação está relacionada à possibilidade de diversificaçõe de investimentos pessoais de Trajano. “Acredito que a compra esteja baseada em uma oportunidade de negócios e de expansão para a mídia, sem interferir na isenção do portal.”
Outra questão relevante é que a chegada de Trajano a um importante veículo de comunicação ocorre também em um momento em que aumentam as conversas de bastidores pela possível presença de Luiza Helena Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza e mãe de Frederico, como vice em alguma chapa presidencial, fato constantemente negado pela empresária. “Não acredito que tenha relação. Seria algo muito óbvio esse tipo de intenção. Ela já tem uma projeção muito grande”, afirmou Gandelman.
Se as semelhanças de Frederico Trajano com o poderoso fundador da Amazon já eram observadas pelo mercado, principalmente com o caminho digital adotado pela companhia criada no interior de São Paulo, agora o executivo brasileiro põe mais um ingrediente nessa avaliação a partir da entrada no mercado editorial. A questão agora é qual será a próxima ação que irá associar o brasileiro a Jeff Bezos. O fato é que, a cada dia, essa distância fica mais curta.
