01/07/2020 - 20:28
Atos públicos, porta a porta entre os eleitores, convenções: a pandemia de COVID-19 interrompeu a campanha presidencial nos Estados Unidos, obrigando Donald Trump e Joe Biden a repensar suas estratégias para uma eleição cujo resultado poderia demorar vários dias para ser conhecido.
Dessa vez, o ritmo frenético típico no período prévio às eleições presidenciais nos EUA terá de ser esquecido.
Em março, a pandemia colocou um fim de forma abrupta aos atos públicos e agora a campanha ressurge timidamente, onde todos se perguntam como serão os meses que faltam até o dia da votação, em 3 de novembro, no país mais afetado pelo coronavírus.
– Biden, sem comícios –
Ao explicar estar seguindo “o conselho do seu médico”, o candidato democrata à Casa Branca, de 77 anos, anunciou na última terça que não organizará eventos públicos massivos durante esta campanha “incomum”.
Biden poderia reconsiderar a decisão se a situação melhorar no país, mas, com o aumento de casos de COVID-19 no país, provavelmente nada mudará.
Em junho, depois de ficar em sua casa por dois meses, o ex-vice-presidente de Barack Obama organizou pequenos eventos públicos.
Sempre usando máscara, Biden se mostra como um líder responsável, conceito repetido várias vezes por sua equipe para mostrar sua diferença perante o rival republicano.
“Continuaremos a usar todas as ferramentas disponíveis para destacar o óbvio contraste entre a lenta e caótica resposta de Donald Trump à COVID-19” e a forma de Biden tratar do assunto da pandemia, explicou Michael Gwin, porta-voz do democrata.
Mas essa eleição é arriscada. Ao privar-se de um espaço privilegiado, como eventos e comícios públicos, Biden corre o risco de ceder terreno à Trump, cuja equipe tenta mostrar o concorrente como um velho que evita aparecer diante da multidão.
– Depois de Tulsa, Trump em dúvida –
O presidente estava ansioso pela hora de voltar aos eventos de forma presencial, em espaços nos quais mostra sentir-se à vontade.
Mas seu retorno em Tulsa, Oklahoma, no último 20 de junho, foi um fiasco. Hoje, aos 74 anos, o magnata republicano está muito atrás de Biden nas pesquisas.
Sua equipe admitiu na última terça que ainda não há um novo evento parte da campanha pública programado em sua agenda.
O impacto dos comícios na escolha final dos eleitores “não é suficiente para ultrapassar a situação econômica, problemas de saúde pública ou o desemprego”, ressalta John Brehm, professor de Ciência Política da Universidade de Chicago.
– Convenções “leves” –
Nos Estados Unidos, as convenções em que os partidos nomeiam oficialmente seus candidatos à presidência são geralmente um ponto alto nas campanhas, e reúnem milhares de pessoas.
No entanto, as perspectivas para Biden na convenção democrática de Milwaukee, Wisconsin (17 a 20 de agosto) serão muito diferentes.
Embora ele tenha prometido participar pessoalmente do evento, o espaço dificilmente terá uma grande audiência e será visto principalmente de forma virtual.
Trump também pressionou seu partido para mudar a localização da convenção republicana, porque estava insatisfeito com as restrições da Saúde impostas pelas autoridades democratas na Carolina do Norte.
O evento acontecerá, portanto, em Jacksonville, Flórida, entre os dias 25 e 27 de agosto.
Ironicamente, na segunda, as autoridades daquela cidade ordenaram o uso obrigatório de máscaras por causa do aumento de casos de COVID-19.
Nessas condições, será que os seus partidários irão se aglomerar tanto quanto o candidato republicano espera?
– Porta a porta, nas redes –
A típica abordagem “porta a porta” das campanhas estará ausente dessa vez.
Ou seja, para o Partido Democrata, significará uma retirada “do terreno em que tradicionalmente tem força”, explica Brehm.
Em termos de presença nas redes sociais e força financeira, por outro lado, Trump tem uma clara vantagem sobre Biden.
Com as ferramentas desenvolvidas por sua equipe de gerenciamento de rede, o republicano conseguiu atingir o público eleitor com muita precisão.
Logo, os democratas estão tentando recuperar o atraso.
– Resultados, com atraso? –
Com a pandemia, milhões de americanos escolherão votar por correspondência, o que pode ter um impacto no tempo para a divulgação dos resultados.
Em uma experiência recente, levou uma semana para saber o resultado das primárias em Little Kentucky, finalmente divulgada terça.
O que esperar de uma votação em todo o país, com 330 milhões de habitantes, onde as contagens são lentas e as filas para votar são muito longas?
Alguns temem que demore vários dias para descobrir quem assumirá o país em janeiro de 2021, Joe Biden ou Donald Trump.