A falta de unidade que caracteriza a bancada federal do PSL – e que ajudou o presidente Jair Bolsonaro a decidir pela desfiliação do partido – também é observada na posição dos representantes da sigla em seus Estados.

À frente de três governos, a legenda se divide, ora na oposição ora na situação. E chega a ser aliada de siglas que, em 2022, terão candidatos próprios à Presidência ou que integram o Centrão, bloco partidário criticado por bolsonaristas nas redes sociais.

A participação no primeiro escalão dos governos muda de acordo com o local. No Rio, o PSL comanda as secretarias da Ciência e Amparo à Pessoa com Deficiência da gestão de Wilson Witzel (PSC). No Rio Grande do Sul, a pasta de Desenvolvimento Econômico foi entregue à legenda pelo governador Eduardo Leite (PSDB). Em Minas, o governador Romeu Zema (Novo) nomeou para a secretaria de Segurança Pública, à época, um filiado da sigla, que hoje não faz parte do partido. Esses três partidos projetam disputar o Planalto daqui a três anos.

Após se elegerem governadores na onda conservadora que deu a vitória a Bolsonaro no ano passado, Witzel e o tucano João Doria, de São Paulo, já se descolaram do governo federal em busca do mesmo eleitorado. E já são tratados como adversários pelo presidente, que passou a falar abertamente sobre sua intenção de disputar um segundo mandato.

No Rio, berço político de Bolsonaro, a relação é de confronto depois que o nome dele surgiu na investigação da morte da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL), ocorrida em março de 2018. O presidente reagiu e afirmou que Witzel vazou a informação à imprensa para prejudicá-lo. O governador nega.

Com Doria, o relacionamento também é distante, embora menos conturbado. Em São Paulo, o PSL não participa do governo nem faz parte da base aliada na Assembleia Legislativa. “Doria é um marqueteiro, que tem um projeto nacional. Tanto que ele não se refere aos cidadãos do Estado como paulistas, mas como ‘brasileiros que vivem em São Paulo'”, disse o deputado do PSL Douglas Garcia.

O parlamentar aliado a Bolsonaro, no entanto, reconheceu que a bancada paulista vota com o governo nas pautas ligadas à economia e ao enxugamento do Estado. “Mas votamos contra aquelas que dão aumento salarial a agentes públicos, por exemplo”, afirmou Garcia.

Já Zema tem defendido um alinhamento ao governo Bolsonaro. O mineiro, apoiado pelo candidato derrotado à Presidência pelo Novo, João Amoêdo, tem como vice-líder no Legislativo um deputado do PSL, Coronel Sandro, que se declara independente. “Eu sou vice-líder do governo, mas nos consideramos um bloco independente. Há um alinhamento com a pauta econômica, privatizações, redução de impostos, redução do Estado, defesa das forças de segurança, mas somos contra as pautas de costumes”, disse o deputado.

No Rio Grande do Sul, o discurso de independência é o mesmo, apesar de os parlamentares do PSL apoiarem as pautas do governo Leite. “Já votamos contra, mas como é um governo de direita, em várias pautas a gente acaba acompanhando: pautas econômicas, privatizações, enxugamento da máquina, questões ligadas ao liberalismo econômico. Em algumas pautas fomos contra, como o aumento dos salários da diretoria do banco Banrisul. Mas, no geral, não é difícil acompanhar o governo”, disse o líder da bancada do PSL na Assembleia Legislativa, Coronel Zucco.

Centrão

O PSL apoia pelo menos outros cinco governadores, com participação direta ou não no dia a dia da máquina. No Pará, por exemplo, o presidente estadual do partido foi nomeado por Helder Barbalho (MDB) secretário de Justiça e Direitos Humanos. No Acre, Gladson Cameli (PP) escolheu o ex-prefeito de Acrelândia Tião Bocalom para a direção da empresa estadual de fomento ao agronegócio.

Em Goiás, a sigla fez indicações a cargos menores, do segundo e terceiro escalões. E os deputados estaduais estão na base de Ronaldo Caiado (DEM). Roraima e Rondônia são comandados por filiados do PSL e mantêm o partido em suas respectivas bases aliadas.

Em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, assim como no Tocantins e no Amazonas, a postura oficial dos parlamentares é de neutralidade. Oposição mesmo só em relação às gestões consideradas de esquerda, como os governos comandados por PT e PSB.

Nesse xadrez, Santa Catarina é a maior surpresa. Apesar de ter sido eleito pelo PSL, o governador Carlos Moisés não é benquisto por bolsonaristas por defender pautas ambientais e por manter diálogo com movimentos sociais, como os de moradia, e representantes da causa LGBT. Após menos de um ano de governo, a bancada no Estado está rachada. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.