Liderando uma missão de empresários brasileiros em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, tem respondido a muitas perguntas sobre o “novo Trump”, como os estrangeiros identificam o presidente eleito, Jair Bolsonaro. Mas não percebeu em suas conversas nenhuma repercussão negativa do alinhamento do futuro presidente a Israel.

“Nenhuma!”, respondeu à reportagem, ao ser questionado se haveria alguma crítica ou ressalva às declarações de Bolsonaro. “Só perguntam como é o novo Trump.”

Maggi declarou voto ao candidato do PSL no segundo turno.

Durante a campanha, Bolsonaro afirmou que pretendia mudar a embaixada brasileira em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém. Isso causou mal-estar entre os países muçulmanos, que se aliam ao lado palestino, e colocou em risco o comércio do Brasil com esses países. Só em carnes, são US$ 13 bilhões ao ano.

Segundo colaboradores, o presidente eleito já recuou da ideia, ao ser informado sobre o tamanho do problema que causaria. O pragmatismo econômico deve dar as cartas na política externa do novo governo.

Alvo da admiração de Bolsonaro, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, transferiu sua embaixada para Jerusalém. Foi seguido pelo Paraguai que, porém, já voltou atrás e mantém sua representação em Tel-Aviv.

Fontes do campo diplomático árabe informaram que as declarações de Bolsonaro foram tomadas como discurso de campanha. A ordem é aguardar para conhecer o real posicionamento do novo governo.

Em Abu Dhabi, Maggi acompanha uma delegação de empresários, segundo informa sua assessoria de imprensa. Na quarta-feira, 31, o grupo participa da feira Agriscape, na qual serão apresentados projetos do setor privado brasileiro a investidores e fundos estrangeiros. O ministro fará uma palestra no evento.

De lá, o grupo segue para a China, onde participa da megafeira de importação de Xangai. Segundo o Ministério da Agricultura, Maggi deverá reunir-se com autoridades do governo chinês e encontrar-se com empresários locais do setor de sementes e biotecnologia. Uma das maiores produtoras da China, a LP Sementes, adquiriu no ano passado as operações brasileiras de sementes de milho da Dow e pretende estabelecer aqui um polo de exportação para a América Latina.

Bolsonaro também fez ressalvas aos investimentos da China durante a campanha. Disse que não venderia ativos de geração de energia da Eletrobrás a empresários do país asiático e acrescentou que “a China está comprando o Brasil”. Tal como os árabes, o governo chinês credita as falas ao processo eleitoral e ao desconhecimento sobre a profundidade da parceria estabelecida entre os dois países.