As incertezas na economia e na política brasileira, aliadas ao fortalecimento do dólar globalmente, têm provocado forte influência na curva de juros no País. Na quarta-feira, 6, 66% dos contratos de juros futuros embutiam a possibilidade de o Banco Central aumentar, ainda neste mês, a taxa básica de juros em 0,25 ponto porcentual, para 6,75% ao ano. Uma semana atrás, eram 34%.

Essa mudança na curva de juros, porém, se deve mais a uma questão técnica do que a uma aposta efetiva do mercado em um aumento da Selic – os analistas, pelo menos por enquanto, descartam uma alta do juros em breve.

Para o economista-chefe do Banco Safra, Carlos Kawall, o mercado de renda fixa (responsável por determinar a curva de juros) está “disfuncional” e persiste uma avaliação errada sobre a comunicação do BC em maio, que associa os movimentos do câmbio à manutenção da Selic em 6,5%, quando todos apostavam em uma redução.

“Temos um regime de metas de inflação. Se fosse metas de câmbio, seria diferente. Na vigência do sistema de metas de inflação, seria uma quebra de regra fazer alta de juros em cima de uma economia enfraquecida, de uma expectativa de inflação ancorada e de uma inflação corrente abaixo da meta”, disse.

O economista-chefe do BNP Paribas para América Latina, Marcelo Carvalho, disse que há um descolamento entre a curva de juros e a realidade econômica. Para ele, só haverá uma alta na Selic se o dólar ficar cotado, por um longo período, a mais de R$ 4. “Ainda assim, será preciso que haja um repasse da desvalorização do câmbio para a inflação, o que será difícil de ocorrer. Quando há uma crise, é mais difícil para as empresas repassarem (o custo elevado com importação) aos consumidores.”

A economista Tatiana Pinheiro, do Santander, acrescentou que o banco nem discute a possibilidade de um aperto monetário. “A depreciação não causou uma pressão inflacionária que ameace a meta da inflação.”

Para Carlos Pedroso, economista do Banco MUFG Brasil, o que está acontecendo no mercado é que “o investidor que quer vender seu papel não está conseguindo, porque o risco está maior”. Segundo ele, isso faz com que o comprador do ativo exija uma taxa de juros mais elevada.

O economista Gustavo Cruz, da XP Investimentos, lembra que o mercado está preocupado com a possibilidade de um candidato não reformista vencer as eleições. “Isso aumenta o risco de investir aqui e impacta no câmbio e no risco país, além da taxa de juros.”

Na quarta-feira, 6, o dólar encerrou o dia com alta de 0,72%, a R$ 3,8377 – a maior cotação desde março de 2016, época pré-impeachment da então presidente Dilma Rousseff. Já o risco Brasil, medido pelo CDS, um derivativo de crédito que protege contra calotes na dívida soberana, subiu de 237,22 para 242,10, segundo a Markit. Foi a cotação mais alta em 11 meses. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.