Pesquisadores descobriram a primeira evidência de que as pessoas podem se adaptar geneticamente ao mergulho profundo, como mostram os baços anormalmente grandes do povo indígena da Indonésia conhecido como “Nômades do Mar”, revelou um estudo publicado nesta quinta-feira (19).

Os Bajau, praticantes de pesca submarina, mergulham regularmente a profundidades de até 70 metros, usando apenas pesos e uma máscara de madeira.

Eles passam até 60% de seu dia de trabalho mergulhando para pescar, espetando polvos e coletando crustáceos – uma quantidade de tempo que rivaliza apenas com a de lontras marinhas – e podem ficar submersos até 13 minutos por vez, detalhou o estudo publicado na revista científica Cell.

Intrigada com essa habilidade incomum, a pesquisadora americana Melissa Ilardo, então candidata a pós-doutorado no Centro de GeoGenética da Universidade de Copenhague, se perguntou se eles tinham se adaptado geneticamente de alguma forma para passar mais tempo debaixo d’água do que outras pessoas.

Ela passou vários meses em Jaya Bakti, na Indonésia, com a ajuda de um tradutor, conhecendo os Bajau e outro grupo próximo que não mergulhava, os Saluan.

“Passei toda a minha primeira visita a Jaya Bakti me apresentando, apresentando o projeto e a ciência por trás dele”, disse à AFP.

“Queria ter certeza de que eles entendessem exatamente o que eu estava pedindo deles, para que pudessem ajudar a direcionar o projeto de modo a refletir seus interesses. Eles estavam muito curiosos e animados com a pesquisa”.

Antes de sua segunda visita, ela aprendeu um pouco de língua indonésia para poder se comunicar diretamente com os Bajau.

Ela pegou amostras genéticas e fez exames de ultrassonografia, que mostraram que os Bajau tinham baços cerca de 50% maiores que os Saluan.

Os baços são importantes no mergulho – e também são aumentados em algumas focas – porque liberam mais oxigênio no sangue quando o corpo está sob estresse ou quando a pessoa está prendendo a respiração embaixo d’água.

Os baços eram maiores no povo Balau, independentemente de eles serem mergulhadores regulares ou não, e uma análise mais aprofundada de seu DNA revelou por quê.

Comparando os genomas dos Bajau com os de duas populações diferentes, os chineses Han e os Saluan, os cientistas encontraram 25 trechos que diferiam significativamente.

Entre eles estava um trecho em um gene conhecido como PDE10A, que está ligado ao tamanho maior do baço dos Bajau.

Em camundongos, o “PDE10A é conhecido por regular um hormônio da tireoide que controla o tamanho do baço, apoiando a ideia de que os Bajau podem ter evoluído até o tamanho do baço necessário para sustentar seus longos e frequentes mergulhos”, disse o estudo.

Mais pesquisas são necessárias para entender como o hormônio da tireoide afeta o tamanho do baço humano.

Os resultados poderiam ajudar os pesquisadores a entender como o corpo reage à perda de oxigênio em vários contextos, como o mergulho, escalada em altas latitudes, cirurgias e doenças pulmonares.

“Isso realmente nos diz quão valiosas e importantes são as populações indígenas em todo o mundo que estão vivendo estilos de vida extremos”, disse o coautor Eske Willerslev, professor da Universidade de Copenhague.

“Os Bajau e outros Nômades do Mar são simplesmente extraordinários e eu queria poder provar isso para o mundo”, disse Ilardo, agora pesquisadora de pós-doutorado do Instituto Nacional de Saúde dos EUA no departamento de Medicina Molecular da Universidade de Utah.