Ao longo da sua história, a Nokia reinventou-se várias vezes. A empresa foi criada em 1865, para produzir polpa de celulose às margens do rio Nokianvirta, na Finlândia. Já fabricou pneus, computadores e telefones fixos. Mas em 1992 resolveu desistir de tudo para se focar apenas em celulares. Em apenas seis anos, tornou-se líder mundial na produção de aparelhos móveis, posição que jamais perdeu desde então. Mas, pela primeira vez em sua trajetória recente, a companhia está ameaçada. Ela vem lenta e continuamente perdendo participação de mercado no mundo e no Brasil.  

 

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                                      Almir Narcizo > presidente da NOKIA “Somos líderes em volume no Brasil.                                          

 

E isso tem impacto nos resultados financeiros. Cada ponto percentaual perdido significa US$ 2 bilhões a menos em receita. Sem um produto rival à altura para o iPhone, Blackberry e outros aparelhos como o Android, a empresa acredita que encontrou a fórmula para reverter esse cenário: N8 mais C3 é igual  à volta dos bons tempos, na visão da companhia. 

 

Afinal, o que significam essas siglas? “O N8 será o melhor smartphone da Nokia e o C3 terá recursos de um celular inteligente por um preço arrasador”, diz Almir Narcizo, presidente da subsidiária brasileira. 

 

O N8 é o primeiro produto da Nokia com “multitouch”, recurso que o iPhone, da Apple, tem desde o lançamento, em 2007. Outros concorrentes, como Samsung, HTC, Palm e RIM, já vendem aparelhos com a tecnologia popularizada pela empresa de Steve Jobs. 

 

Mas o N8 conta também com atributos técnicos dificilmente encontrados em outros smartphones, como câmera de 12 megapixels, qualidade de vídeo de alta definição e a nova versão do sistema operacional Symbian. O Brasil será um dos três países no qual o aparelho será fabricado (os outros são Finlândia e China).  

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N8: aparelho que será fabricado em Manaus é o primeiro da Nokia a usar a tecnologia multitouch

 

A previsão é de que o celular seja lançado em setembro por R$ 1.499 (valor desbloqueado, sem subsídio das operadoras de telefonia). Se o N8 é a aposta da Nokia para concorrer no segmento de celulares topo de linha, o C3 é o smartphone para as massas da companhia. 

 

Ele custará R$ 399 no varejo. Por esse valor, o consumidor terá e-mail gratuito, acesso a redes sociais e tecnologia Wi-Fi. Mas o C3 usará a tecnologia 2G, anterior às redes 3G, que permitem acesso em alta velocidade à internet. 

 

Os dois aparelhos têm a missão de recuperar o brilho perdido da Nokia. Apesar do barulho que envolve o iPhone, da Apple, e os celulares com o sistema operacional Android, do Gooogle, a empresa finlandesa ainda é a líder de mercado. 

 

“Mas o atraso na adoção da tecnologia de tela sensível a toque tem levado os consumidores a não enxergar a Nokia como uma empresa inovadora”, afirma Gavin Byrne, analista de pesquisa da consultoria londrina Informa Telecom & Media. Os dois principais concorrentes globais da Nokia no mercado de smartphones – Apple e RIM – são focados em segmentos específicos do mercado de celulares. 

 

A Nokia não. Ela tem aparelhos para todos os tipos de clientes e bolsos – de R$ 99 a R$ 1.499. E isso é parte dos problemas financeiros da companhia, que levaram o jornal The Wall Street Journal a informar que a empresa busca um novo CEO para o lugar de Olli-Pekka Kallasvuo. 

 

No segundo trimestre de 2010, o lucro foi de 227 milhões de euros, queda de 40%. O preço médio dos celulares passou de 62 euros para 61 euros. “Ela vende um grande número de celulares com baixa margem”, diz Byrne. “E tem sido forçada a reduzir o preço dos smartphones, que tradicionalmente têm margens altas, afetando os lucros.” 

 

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C3: com e-mail gratuito e tecnologia sem fio, Wi-Fi é um smartphone para as massas 

 

Essa estratégia de preços reduzidos teve reflexo no Brasil. Em 2009, o faturamento da Nokia foi de R$ 3,8 bilhões, 25% menor do que o ano anterior. É verdade que as vendas do mercado brasileiro de celulares tiveram queda no ano passado, mas de apenas 4%. 

 

“Somos líderes em volume, mas não em receita no Brasil”, admitiu Narcizo. A coreana Samsung tomou o lugar da companhia finlandesa no País, apurou DINHEIRO. A operação brasileira também caiu uma posição entre as maiores subsidiárias da empresa, em ranking que é liderado pela China. 

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Ela era a oitava em 2008 e terminou em nono lugar em 2009, ultrapassada pela Espanha. “A Nokia está em uma curva de perda de importância e de participação de mercado”, afirma Elia San Miguel, analista de telecomunicações do Gartner. “Mas poucas empresas têm a escala, logística e capacidade de distribuição da Nokia.” 

 

O ano de 2010 é crucial para a Nokia. Além dos novos celulares, a empresa vai abrir lojas próprias no Brasil, inspirada no modelo da rival Apple. A primeira será inaugurada em meados deste mês no Rio de Janeiro. São Paulo também terá a sua ainda neste ano. “Os dois principais desafios da empresa são inovar e executar”, diz Byrne, da Informa. Se não conseguir, a empresa terá que se reinventar. Mais uma vez.