Quais as barreiras, os limites que um homem ou uma mulher preta tem que enfrentar para chegar ao topo da carreira? Por que nas 500 maiores empresas do Brasil, apenas 4,7% dos cargos de decisões são ocupados por negros em nosso país? E como esses poucos executivos que chegaram no topo da carreira lidam com o assunto, quais as ações estão fazendo para mudar o quadro, como enfrentar os desafios de ser único ou única negra em um espaço totalmente branco?

Essas e outras perguntas foram amplamente debatidas na Fundação Don Cabral no lançamento do Fórum Brasil Diverso 2020, há exato um ano. O encontro contou com nomes de peso, que estavam fazendo a diferença na teoria e na prática, impulsionando mudanças no mundo corporativo para uma agenda racial, como o pioneiro a discutir isso, entre os CEOs, Theo Vann der Loou.

A provocação que fizemos em março de 2020, na sede da Fundação Don Cabral, em São Paulo, por ocasião do lançamento do Fórum Brasil Diverso, trazia também outras indagações a exemplo de como o Brasil reagiria à maior crise sanitária da história, que se avizinhava e nem imaginávamos as repercussões que o caso George Floyd causaria em setores da vida pública e privada no Brasil e no mundo.

Fizeram parte daquele pequeno, mas importante, encontro de lideranças negras que estavam no topo da carreira, mas que ainda não tinham galgado o cargo de CEO. Era nítida nossa inquietação e a busca de uma resposta: por que a democracia representativa, tão bonita no papel, cantada em prosa e verso como sendo o país da miscigenação, da cortesia e da democracia racial, é tão branca nas suas lideranças empresariais? Cadê nossos CEOs negros na segunda população mais negra do Planeta com mais de 100 milhões de pessoas se autodeclarando negras?

Em um ano muitas coisas mudaram no Brasil e no mundo: a pauta da questão racial passou a ser obrigatória em todos os setores, inclusive no mundo corporativo e daquele pequeno grupo que se reuniu na Don Cabral, em março de 2020; nosso colega Edvaldo ou Billy como carinhosamente o chamamos, respondeu a expectativas se tornando recentemente o primeiro CEO negro da United Health Group Brazil, mais conhecida no Brasil como Amil.

É nítido o quanto ainda precisamos caminhar para que os números reais, estáticos, ou seja, que 56% da população que se autodeclara negra esteja também representada como CEOs, como governadores, prefeitos, enfim, em cargos de liderança e com a caneta na mão para decidir os rumos e o futuro do nosso país onde somos a maioria.

Um ano se passou, as mudanças são visíveis, de hábitos, costumes, expectativas padrões, cultura empresarial, enfim, a pandemia e a crise econômica, social, tem nos mergulhado em infinitas reflexões, que mesmo os mais atentos a mudanças têm se surpreendido.

Nossa esperança é que após esse vendaval possa nascer um país e os que sobreviverem física e mentalmente possam ter refletido sobre a mais importante lição que esse momento nos deixará, que somente com a solidariedade, o respeito ao próximo que significa a vida, poderemos construir um país e um mundo melhor.