O Brasil entrou, finalmente, na fase da discussão de reformas e negociação de medidas que realmente importam à população. Em dois campos prioritários: Previdência e Segurança. Praticamente juntos, os ministros Paulo Guedes, da Economia, e Sergio Moro, da Justiça, foram ao Congresso para entregarem seus respectivos projetos e, claro, iniciarem as conversas para facilitar a tramitação. O Governo, mais do que nunca, depende desses interlocutores preferenciais. A queda do ministro Gustavo Bebianno, que vinha fazendo a ponte com parlamentares, foi um duro golpe nas tratativas, dado o seu trânsito na Casa, e acendeu o sinal vermelho entre Executivo e Legislativo.

Deputados e senadores temem que Bolsonaro continue a empurrar suas propostas de forma desorganizada, sem negociação, e já ensaiam alguma resistência. A derrota acachapante, na semana passada, na votação do decreto que alterava as regras para a classificação de dados ultrassecretos, foi um recado direto. O Governo perdeu inclusive com o voto contrário de aliados da bancada. Agora, na esperada reforma da Previdência, terá de agir com mais cautela, articulação e de maneira menos impositiva. Deputados, especialmente o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, não reconhecem no Chefe da Casa Civil, ministro Onyx Lorenzoni, recrutado para a tarefa, o perfil certo de interlocutor.

Moro e Guedes angariam mais respeito, dado o prestígio que gozam em suas respectivas áreas. O czar da economia tem feito acenos claros para acomodar interesses, sem desvirtuar a essência das mudanças sugeridas. Desidratou alguns itens a pedido dos estados e busca, inclusive, apresentar um novo pacote de socorro para as finanças regionais em troca de apoio à reforma. Aos poucos, vai percebendo que precisa fazer recuos estratégicos na busca de um salto maior. Só avisa que não desistirá, em nenhum momento, da ideia de um projeto que uniformize para todos os setores e categorias as futuras regras. Em outras palavras: insiste em dar o mesmo tratamento a servidores públicos, militares, parlamentares e demais aposentados.

A rigidez das medidas — que chega a estabelecer contribuição de 40 anos para as pensões integrais — também foi a tônica do modelo anterior, apresentado ainda pelo governo Temer. Ele foi desfigurado, mas Guedes garante que na nova circunstância, de um governo com aval das urnas, isso não vai acontecer. Moro, na mesma tática do colega de ministério, também amenizou alguns pontos sobre o seu plano anticrime — ou anticorrupção, como também é conhecido. Mexeu no espinhoso item da criminalização do caixa 2 e o enviou em separado. A pressão dos políticos foi decisiva nesse sentido. E ela está apenas começando. Habilidade nesse momento será fundamental.

(Nota publicada na Edição 1109 da Revista Dinheiro)