Apesar da baixa taxa de inclusão de alunos com algum tipo de deficiência nas salas de aula, professores brasileiros são os que mais demandam treinamento e formação para dar ensino de qualidade a esses estudantes. Dados da pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Talis, na sigla em inglês), da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mostram que os educadores reconhecem ter dificuldade para atuar com turmas onde há crianças com deficiência ou transtornos globais do desenvolvimento.

Só 11% dos professores do 5º ao 9º ano do Brasil disseram atuar em salas de aula com ao menos 10% de alunos com alguma deficiência – a média da OCDE é de 27%. Apesar de 73% dos docentes afirmarem que receberam algum tipo de orientação sobre como atuar com alunos com deficiência durante a graduação, 58% dizem que sentem muita necessidade de ter um treinamento voltado especificamente para o assunto – enquanto a média da OCDE é de 22%.

Nos últimos quatro anos, o Brasil registrou aumento de matrículas de alunos desse grupo na educação básica, com 90,9% deles estudando em classes regulares, como é recomendado. No entanto, não há levantamento que indique quantas crianças com algum tipo de deficiência ainda estão fora da escola.

“É um problema que ainda estamos enfrentando a passos lentos e não sabemos nem quão longe estamos de resolver. Além disso, há diferenças regionais preocupantes. Em Estados ricos, como São Paulo, a inclusão é maior. Em regiões mais pobres, essas crianças não chegam à escola”, diz Maria da Paz Castro, a Gunga, que atua na formação de professores e é assessora de educação inclusiva em colégios particulares.

O baixo índice de inclusão também está ligado à prática ilegal de uma parte dos colégios particulares, que se nega a matricular crianças com deficiência ou cria “cotas” para um número máximo de estudantes desse grupo por turma. A arquiteta Karen Neves, de 42 anos, enfrenta há anos dificuldades para encontrar uma escola inclusiva para a filha Nina, de 8 anos, que tem autismo.

A família mudou para São Paulo para que a menina pudesse ter acesso a educação e tratamento de melhor qualidade. “Morávamos em Poços de Caldas (MG), ela passou por duas escolas e percebi que não tinham condições de dar a educação de que minha filha precisa. Em uma das delas, foi ‘convidada a sair’ aos 2 anos de idade e na outra, por mais boa vontade que houvesse dos professores para incluí-la, não tinham conhecimento ou experiência.”

Para Maria da Paz, escolas que sejam de fato inclusivas beneficiam a todos e deveriam ser uma demanda de toda a sociedade, não apenas das famílias de crianças com deficiência. “Educação inclusiva significa ensinar a todos os alunos, independentemente da dificuldade de cada um. Todos se beneficiam.”

Segundo o relatório do OCDE, um primeiro passo importante para os sistemas educacionais é investir na identificação de deficiências e transtornos dos alunos. “O que professores percebem como problemas de comportamento pode ter outras explicações. O erro de diagnóstico é custoso para os estudantes, docentes e o sistema educacional como um todo”, diz a entidade. Procurado, o Ministério da Educação (MEC) informou que uma proposta de revisão da política de educação especial foi encaminhada ao Conselho Nacional de Educação (CNE) no fim do ano passado.