Algumas cidades do Irã ainda registravam nesta segunda-feira (18) “alguns” distúrbios, segundo o governo de Teerã, que argumentou que a situação estava voltando ao normal após vários dias de violência causada pelo anúncio de um aumento no preço do combustível.

Oficialmente, duas mortes foram confirmadas desde que os protestos começaram na noite de sexta-feira, um civil e um policial, embora outras oito pessoas podem ter morrido de acordo com as informações publicadas por várias agências iranianas que, no entanto, não oferecem fontes ou mais detalhes.

Os Guardiões da Revolução, o exército de elite da República Islâmica, alertaram que estavam dispostos a “reagir decisivamente […] contra a continuação da insegurança e ações que perturbam a paz social”, depois que os protestos provocaram o bloqueio de estradas e o incêndio de vários edifícios.

Mais cedo, o governo iraniano afirmou que, “na comparação com domingo, a situação está 80% mais tranquila”.

“Ainda existem alguns problemas menores, mas amanhã ou depois de amanhã não teremos nenhum problema de distúrbios” declarou o porta-voz do governo, Ali Rabii.

No entanto, é difícil avaliar o estado real da situação em todo o país, devido aos cortes na Internet – serviço que ficou indisponível também na noite desta segunda-feira – por vários dias.

“O nível de conexão com o mundo exterior é de apenas 5% comparado aos níveis normais” no Irã, publicou no Twitter a ONG Netblocks, que analisa a liberdade de acesso à Internet em todo o mundo.

Segundo agências iranianas, pelo menos 25 cidades foram afetadas pelos distúrbios, que ocorreram horas após o anúncio de uma reforma no modo de subsidiar a gasolina, projetada para beneficiar as famílias mais desfavorecidas, mas que deve ser acompanhada por um aumento acentuado do preço do combustível, de pelo menos 50%.

As autoridades da República Islâmica relataram a detenção de mais de 200 pessoas.

Estes ventos ocorrem num momento de crise econômica no país agravada pelas sanções impostas pelos Estados Unidos, por conta do programa nuclear do país.

A moeda, o rial, sofreu uma acentuada desvalorização, a inflação passa dos 40% e o FMI espera para este ano uma queda de 9,5% no PIB do Irã.

Nesta segunda-feira, o Irã criticou em um comunicado do ministério das Relações Exteriores o “apoio” dos Estados Unidos ao que chamou de “grupo de amotinados” e condenou os comentários “intervencionistas” de Washington.

No dia anterior, a Casa Branca condenou o Irã pelo uso de “força letal” contra os manifestantes nos protestos contra o aumento no preço dos combustíveis.

“O Estados Unidos apoiam o povo iraniano em seus protestos pacíficos contra o regime que deve guiá-lo “, disse a porta-voz do Executivo, Stephanie Grisham.

– Sem internet –

Nesta segunda, foram registradas novas reações sobre a situação no Irã. A Alemanha pediu à República Islâmica que respeite as manifestações “legítimas”, enquanto a Turquia expressou o desejo pelo “retorno à calma o mais rápido possível” ao país vizinho.

Já a França disse estar acompanhando “a situação com cuidado” e “lamenta a morte de vários manifestantes”.

A agência iraniana Fars, ligada aos conservadores, afirmou que é difícil saber quando serão retiradas as restrições de acesso à internet.

A medida que provocou as manifestações implica um aumento do preço da gasolina de 50% para os primeiros 60 litros comprados a cada mês – de 10.000 a 15.000 riais (11 centavos de euro) – e de 300% para os litros adicionais.

As autoridades afirmam que a arrecadação com o aumento vai beneficiar os 60 milhões de iranianos mais desfavorecidos, sobre uma população total de 83 milhões.

Além disso, os protestos ocorrem a alguns meses das eleições legislativas, previstas para fevereiro.

No domingo, o presidente iraniano Hassan Rohani afirmou que o Estado não deve permitir a insegurança diante dos distúrbios.

“Manifestar seu descontentamento é um direito, a manifestação é uma coisa, e o distúrbio é outra”, declarou Rohani em um conselho de ministros, segundo comunicado da presidência.