O dólar apresentou ganhos generalizados nesta quinta-feira, 23, diante de moedas principais e de mercados emergentes, dando prosseguimento ao rali visto este mês. Enquanto o diferencial das taxas de juros dos Estados Unidos e de outros países continuou no radar dos agentes, questões políticas na Itália e na Austrália contribuíram para os ganhos da divisa americana, que viu sua característica de porto seguro se sobressair.

Próximo ao horário de fechamento das bolsas em Nova York, o dólar subia para 111,25 ienes, o euro recuava para US$ 1,1541 e a libra cedia para US$ 1,2814. Já o índice DXY, que mede a moeda americana contra uma cesta de outras seis divisas fortes, encerrou o dia em alta de 0,55%, para 95,666 pontos.

Dados da economia americana continuaram a colaborar com a visão de céu de brigadeiro nos Estados Unidos. De acordo com o Departamento do Trabalho do país, o número de pedidos de auxílio-desemprego caiu pela terceira semana consecutiva, para 210 mil, contrariando as estimativas de leve crescimento para 215 mil na semana passada. “O sinal dos dados continua sendo o de outro mês sólido para o emprego agora em agosto”, disse o economista-chefe para EUA do Barclays, Michael Gapen.

No cenário de mercado de trabalho aquecido, dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) emitiram comentários sobre o aperto monetário nos EUA à medida que se aproxima o início do simpósio anual de Jackson Hole, comandado pela distrital de Kansas City do banco central americano. A presidente do Fed de Kansas, Esther George, afirmou na manhã desta quinta-feira que prevê mais duas elevações de 25 pontos-base cada nas taxas de juros este ano. Apesar de não apontar quantas altas acredita que sejam necessárias, o presidente do Fed de Dallas, Robert Kaplan, se mostrou a favor da continuidade das elevações nos juros.

O cenário de manutenção do aperto monetário em solo americano, assim, voltou ao radar e fez com que a cotação do dólar subisse de forma generalizada. A linguagem da ata da reunião de política monetária do Fed do início deste mês “foi consistente com a ideia de duas altas nos juros este ano, embora a política comercial de Donald Trump tenha sido mencionada muito claramente como um risco para o crescimento”, disseram analistas do UBS. Para eles, a mudança estrutural da economia americana deve estar na agenda de sexta-feira, com os investidores aguardando pelo discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, em Jackson Hole.

Dado o panorama da economia americana, outras questões influenciaram os agentes. O euro reagiu negativamente à ata da reunião de julho do Banco Central Europeu (BCE), que mostrou preocupação dos dirigentes com o comércio global. Além disso, no início da tarde, o vice-primeiro-ministro da Itália, Luigi Di Maio, afirmou que ele e o Movimento 5 Estrelas (M5S, na sigla em inglês) estão dispostos a suspender o financiamento à União Europeia caso não haja uma redistribuição de migrantes que chegam ao território italiano.

Também no campo político, a possibilidade de renúncia do primeiro-ministro da Austrália, Malcolm Turnbull, pesou na moeda do país. Ele disse que poderia deixar o cargo e o assento no Parlamento nesta sexta-feira caso os membros de seu partido, o Liberal, não deixem de lado as tentativas de derrubá-lo. Caso Turnbull renuncie ao posto, uma eleição suplementar seria convocada, o que colocaria em risco a apertada maioria que o governo tem no Parlamento australiano. Não por acaso, o dólar australiano cedia para 0,7246 dólar no fim da tarde.

Donald Trump também agitou os mercados de câmbio e gerou novas tensões com países emergentes, escolhendo, agora, a África do Sul como vítima. De acordo com o líder americano, o Departamento de Estado dos EUA irá acompanhar de perto as expropriações e apreensões de terras e fazendas em território sul-africano e “a matança de agricultores em larga escala”. O plano de reforma agrária do governo de Cyril Ramaphosa teve início nesta semana e gerou controvérsia com alguns fazendeiros do norte do país. Nesse cenário, o dólar saltava para 14,4432 rands próximo ao horário de fechamento das bolsas em Nova York.