No último dia antes da votação do primeiro turno das eleições municipais, os candidatos a prefeito do Rio se dividiram pelas zonas norte e oeste da cidade atrás de votos. Primeiro colocado nas pesquisas, o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) optou pelo bairro de Guaratiba, na zona oeste, a mais populosa da cidade. A região também foi escolhida pela petista Benedita da Silva – que, assim como o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) e Delegada Martha Rocha (PDT), passou ainda pela zona norte.

Benedita e Martha chegaram a se encontrar num dos pontos da cidade, na Avenida Dom Helder Câmara, uma das principais da zona norte. A cena tem sido rara numa eleição que se dá em meio à pandemia. Martha fazia uma caminhada com apoiadores quando a carreata de Benedita passou pela rua. A candidata do PT desejou boa sorte a ela, que retribuiu.

Os eleitores das duas têm discutido nas redes sociais por causa do chamado “voto útil”: pedetistas defendem que só a delegada pode tirar Marcelo Crivella do segundo turno, enquanto petistas alegam que Martha não seria de esquerda e, portanto, não mereceria o voto. A candidata do PDT aparece em empate com Crivella no segundo lugar das pesquisas, sempre na casa dos 15%. Benedita também pode ser considerada empatada por causa das margens de erro dos levantamentos, mas, numericamente, figura cerca de cinco pontos abaixo dos concorrentes.

Crivella e Paes, que neste sábado completa 51 anos, mantiveram no último dia de campanha o tom acusatório dos últimos meses, trocando farpas sobre a deterioração dos espaços públicos e das finanças da cidade do Rio nas gestões alheias. O ex-prefeito acusa o atual de abandonar estruturas e serviços criados no seu governo (2009-2016). Enquanto isso, Crivella responsabiliza seu oponente por uma dívida de R$ 5,2 bilhões que teria herdado ao assumir o cargo e, segundo ele, impossibilitado investimentos.

“É só olhar para os BRTs (sistema de transporte coletivo), as clínicas das famílias, todos acabados. E a zona oeste, a zona norte, as favelas, vão ser prioridades. São áreas que estão muito abandonadas e as pessoas sofrem muito com a ausência do serviço público”, disse Paes em texto divulgado por sua assessoria de imprensa.

O prefeito, em contrapartida, alegou que “não há candidato, nem Eduardo Paes e nem Martha Rocha, que conheça a cidade tão bem (quanto ele), na crise, na dificuldade, na luta.”

A ex-delegada aposta na segurança para atrair os eleitores, mesmo o tema sendo mais associado ao governo estadual. Nas ruas da zona norte, neste sábado, reiterou o ataque à invasão imobiliária da milícias em áreas de preservação ambiental. “O gabinete de gestão tem que contar com a presença de Polícia Federal, Polícia Civil, Polícia Militar, Ministério Público, dos órgãos de controle da prefeitura, de órgãos do meio ambiente. Só assim, com um trabalho integrado e de inteligência, a prefeitura pode e deve ajudar na solução deste problema”, afirmou.

Já Benedita da Silva começou o dia caminhando pela feira da favela Nova Holanda, no Complexo da Maré, uma das mais marcadas pela presença de traficantes e pela violência na cidade. “Quem vai me colocar no segundo turno são as favelas e as pessoas que querem ver a cidade do Rio de Janeiro unida, que querem combater essa desigualdade”, disse a candidata, que tem ressaltado seu passado de moradora de favela.

Entre os projetos idealizados por ela para as comunidades, está a criação de uma moeda social – um complemento mensal de R$ 100 para os beneficiários do Bolsa Família, que só poderia ser gasto no comércio da comunidade. A ideia é inspirada na experiência de Maricá, na região metropolitana, que é governada pelo PT há 12 anos e criou um modelo de renda básica estudado internacionalmente.

Correndo por fora dos quatro principais candidatos, a eleição do Rio terá também nomes como Renata Souza (PSOL) e o bolsonarista Luiz Lima (PSL). Ambos, contudo, tiveram dificuldade de atrair eleitores dos respectivos campos políticos durante a campanha.

Neste sábado, Renata visitou diversos pontos da cidade – no centro, zona sul e zona norte, incluindo a Maré, onde nasceu e foi criada. Abordou principalmente a Educação. Luiz Lima, por sua vez, fez carreata do Pontal, na zona oeste, até o Leme, na zona sul, invertendo o trajeto da música “Do Leme ao Pontal”, de Tim Maia.